Usar uma armadura nem sempre é negativo. Inegavelmente em caso de uma guerra ou de algum ataque inesperado, usar uma armadura nos protege. No entanto, existem armaduras que pretensamente utilizamos e que nos isolam. Nem sempre elas são perceptíveis. Já que podem bem ter sido tecidas ao longo dos anos por circunstâncias diversas. Certamente o ser humano tem um instinto de preservação muito aprimorado. Pois, ao menor sinal de perigo temos a tendência de nos proteger e reagir.
No corpo humano temos um sistema imunológico que detecta e reage ao que considera ameaça. No entanto, assim como na vida, quando nosso sistema imunológico está enfermo, acaba confundindo o inimigo. Ou seja, destrói o que nem sempre precisa ser eliminado. Podendo assim, atacar a si próprio, gerando o que conhecemos como doenças autoimunes. Dentre elas temos a diabetes, lúpus, esclerose múltipla, para citar as mais comuns. O estrago causado por estes ataques é gigantesco, assim como pode ser o uso de uma armadura desnecessária.
As dores e traumas que vivemos tendem a contribuir para o uso inadequado de uma armadura. Inicialmente ela parece ser benéfica e até imprescindível. Mas, precisamos revisitar sua importância, porque nem sempre o problema permanece. Pois, por vezes, temos a sensação de que ela se faz necessária quando, efetivamente, o risco já desapareceu. Carregar uma armadura pesa e nos separa do que pode nos libertar. Ela bloqueia o acesso do que talvez nos cure, como também promove ataques desnecessários.
Removendo a armadura
Livrar-se da armadura desnecessária é um ato da vontade, já que ninguém pode fazer isso por nós. Nos armamos porque imaginamos que o perigo existe, ou que o ataque é iminente. O descarte de conceitos errados e de premissas mal fundamentadas exigirá humildade. Pode parecer que a coragem seja o ingrediente imprescindível. No entanto, o corajoso é humilde em sua essência. Pois, um ato de coragem exige exposição e, em geral, admite o erro como consequência do risco. Ou seja, se abrir para algo novo que nos faça refletir é um ato corajoso e humilde.
O aprendizado que a vida propõe envolve risco. Seja o risco de perder alguma batalha ou de estar equivocado. A vulnerabilidade é um componente que acompanha a valentia de quem não teme o progresso. Uma cultura fechada em seus conceitos jamais será uma cultura adequada. Uma vez que o progresso acontece diariamente, oferecendo-nos novas perspectivas para um mesmo tema. Isto não significa, no entanto, negociar valores. E sim, avaliá-los constantemente à luz de um contraponto. Esta análise honesta, servirá para fortalecer os conceitos sólidos e descartar os que são temporários.
Por exemplo, existem medos e inseguranças próprias da infância. São tolerados e admitidos com certa naturalidade nesta fase. Contudo, são nocivos quando invadem a fase adulta e se perpetuam pelas gerações sem ser questionados. Denunciam uma apatia e um conformismo que mais nos escraviza do que protege. Algumas armaduras são manufaturadas com este tipo de material. Tendem, portanto, a agregar prisões no que nasceu para ser livre.
“Repartir a verdade com quem não busca genuinamente a verdade é fornecer múltiplas razões para interpretações erradas a respeito dela.” George Macdonald
Conhecendo a verdade
A verdade como conceito absoluto existe. Embora o tema seja controverso e com muitos aspectos que devem ser considerados. Se ela não existisse não teríamos um padrão ético e moral que regesse a civilização. Não seria lógico permitir que pessoas façam o que consideram certo e errado, sem um padrão moral regendo e punindo as contravenções. Onde não há ordem a anarquia se instala. Por anarquia entendemos todo e qualquer estado de coisas que não preserve minimamente os direitos básicos do cidadão. A vida em sociedade exige regulamentações e políticas que preservem estes direitos.
Obviamente os tipos de governo e cultura implementam o que consideram correto. Algumas vezes de forma mais arbitrária, outras vezes mais democrática. Mas, inegavelmente, os povos são regidos por um código de conduta. Quando nossa fonte de moral não é a mesma, poderemos divergir, sem ultrapassar os limites da decência e do respeito. Ou seja, os que admitem a existência de um Deus, agem ou pelo menos deveriam agir, de acordo com os conceitos por ele estabelecidos. Os que se classificam como ateus, embora não admitam, possuem seu próprio conjunto de regras e padrão moral que seguem.
Por isso, tanto os que admitem a existência de um Ser Supremo como sendo fonte de moral, como os que recusam-se a admitir esta ideia, todos, sem exceção, possuem uma lista de princípios que os rege. O criador da bomba atômica, no final de sua vida admitiu que achava que a bomba inventada por ele era a força mais poderosa da terra. Contudo, descobriu que o conhecimento da verdade tinha mais poder do que ela. Quando admitimos a existência de uma verdade absoluta seremos tolos se não perseguirmos conhecê-la de maneira incessante. Isso, certamente, envolverá disposição de lidar com as mentiras e armaduras que carregamos.
“A verdade é muito poderosa, mas vive cercada de guardiões da mentira.” Winston Churchill