Definir o belo e o que contêm ou não beleza não é tarefa simples. Diria até que é impossível obter consenso quando se trata de classificar algo como belo ou feio. Pois, a beleza realmente está nos olhos de quem vê. A ótica de duas pessoas em relação a um mesmo contexto ou circunstância pode ser oposta. Por isso, não significa que necessariamente um deve estar certo e o outro errado.
Sem perceber, observamos a vida através de paradigmas pessoais e únicos. A circunstância que representa derrota para um indivíduo, pode representar um incentivo e convite à superação para outrem. Uma situação que limitaria alguém, pode abrir portas para outra pessoa. Provar uma comida exótica pode ser algo empolgante para os aventureiros, e um sacrifício para os que possuem paladar convencional.
Quando não gostamos de determinada coisa, ou temos qualquer preconceito em relação a algo, seria sábio não opinar a respeito. Deveríamos nos limitar a censurar apenas o que amamos, não o que odiamos. Pois, o ódio obscurece nossa capacidade de distinguir e de julgar de forma isenta e equilibrada.
Só consegue emitir juízo correto aquele que encontra falhas no que ama, não no que odeia. O simples fato de classificarmos algo como desagradável, feio ou inadequado, já nos desqualifica para opinar sobre isso. Infelizmente, insistimos em julgar coisas que em sua essência nos desagradam. Em geral, sãos essas situações que atraem nosso olhar como um ímã, e são o gatilho de pensamentos pouco coerentes.
Encontrando beleza na diversidade
Não deveríamos nos mover em cima da “obrigação de sentir”, pois isso congela nossos sentimentos. Respeitar a opinião do outro, especialmente quando sua ótica é oposta à nossa, evitando perseguir empatia imposta, seria solução para muitos desentendimentos. Não temos obrigação de sentir, de concordar, de entender ou de opinar a respeito de coisas que nos desagradam.
Assim, o apaixonado pela culinária italiana é a pessoa certa para “criticar” o prato que lhe foi servido, não o apreciador da culinária japonesa. O engenheiro é o que deve avaliar a construção de uma ponte, não o dentista ou o advogado. Aquilo que por vezes é óbvio, facilmente é negligenciado em nossas relações. E o pior de tudo é que com frequência, ao definirmos se algo possui ou não beleza, desumanizamos quem está por trás do feito.
A obra se mistura com seu autor, e ao analisar a obra temos dificuldade de desassociar o feito de quem o fez. Certamente existem circunstâncias em que esta linha é tênue e quase imperceptível, mas ela existe e deve ser respeitada. Criticar sem cautela o que não gostamos é inadequado e quando não suportamos algo, o mais sábio é nunca criticar.
O mundo está repleto de beleza que deve ser desvendada e descoberta por olhares curiosos e atentos. Enxergar a figura humana em um bloco de mármore é o desafio do escultor. Existem muitas pedras brutas e sem forma que aguardam que alguém lhes imprima significado. As grandes descobertas da humanidade são oriundas de experiências que envolveram criatividade, foco e curiosidade. Quanto mais distraído nosso olhar estiver, menos criativos seremos.
“Os ideais que iluminaram o meu caminho são a bondade, a beleza e a verdade.” Albert Einstein
Respeitando a beleza descoberta pelo outro
A beleza que outro olhar descobre não é menos valiosa ou menos importante do que aquela que nós encontramos. Saber apreciar o belo pela ótica do outro é um ato de generosidade. No entanto, isso não é sinônimo de abrir mão de nossas preferências ou gostos. É possível discordar sem agredir ou diminuir quem pensa diferente de nós. É mais do que entender que meu direito acaba quando começa o do outro, é desejar aprender com quem pensa diferente.
O belo está presente na diversidade e somos sábios quando o perseguimos fora de nossa zona de conforto. Relacionar-se com a diversidade de gostos, sabores, opiniões e óticas é o que enriquece-nos. Cada ser humano é um universo em si mesmo. Somos resultado de experiências, cultura, criação e de uma estrutura orgânica única. Imaginar que encontraremos pessoas que repliquem quem somos é desconsiderar, e de certa forma anular, a realidade de que somos únicos.
Portanto, quanto mais definida for nossa identidade, menos ameaçados nos sentiremos. Os relacionamentos sólidos não são aqueles em que os pares pensam semelhante, e sim onde há diversidade e respeito. Temos diariamente oportunidades diversas de enxergar o belo através do olhar de nosso semelhante. Os que aprendem essa arte são os que enxergam a beleza através dos olhos de quem vê.
“A beleza é a única coisa preciosa na vida. É difícil encontrá-la – mas quem consegue descobre tudo.” Charles Chaplin