Esquecer de algumas coisas, permitindo-se virar a página, é tão importante quanto lembrar do que de bom nos acontece. A dosagem adequada do esquecimento dependerá sempre do quanto a lembrança nos atormenta e limita. Pois, embora nosso cérebro absorva e registre os eventos traumáticos de forma automática, temos opção de enfraquecê-los. Ou seja, revisitá-los com frequência fará com que o gosto amargo volte ao nosso paladar emocional. Ao passo que substituí-los por memórias recentes e resignificá-los é o caminho de quem busca superação.
Sabe-se que os registros de eventos positivos e negativos constituem nossa estrutura emocional e de pensamento. Por isso, temos que parametrizar nosso filtro interno para que ele descarte com mais rapidez aquilo que não nos beneficia. Ou seja, ao contrário do que pensam alguns, temos capacidade de estimular estes registros ou enfraquecê-los. Fazemos isso de forma instintiva, mas temos que ser intencionais em algumas circunstâncias. Ao nutrir o bem que recebemos ou nossos acertos, sendo gratos, estamos fortalecendo memórias positivas. De maneira idêntica, se não valorizarmos o que de mau nos acontece e os erros cometidos, eles desvanecem.
Esta regra da natureza vale para qualquer planta que desejemos cultivar. Isto é, aquela que, na medida certa, for adubada, aguada e estiver sendo exposta ao sol, será a que mais facilmente se desenvolverá. Nossas memórias reagem da mesma forma, ou seja, podem ser fertilizadas com a atenção que damos a elas. Não se trata, no entanto, de pensar positivo apenas. já que, isto seria muito simplista e ignoraria a complexidade de cada ser humano. No entanto, sabe-se que os níveis de otimismo e pessimismo com que encaramos os desafios determinam nosso avanço e a superação almejada.
Aprendendo a desapegar
Apego é definido como vinculação obsessiva a uma pessoa, objeto ou ideia. Quando temos dificuldade em desapegar, sofremos mais com relação a qualquer necessidade de mudança. Ou seja, a obsessão vinculada à uma ideia ou circunstância nos conecta em níveis exagerados e maléficos ao que pensamos que nos define. O desapego acontece quando percebemos que não somos definidos por um objeto, circunstância ou pessoa. Temos uma capacidade muito grande de nos reinventar e poucos exploram este potencial. O medo do desconhecido e as muletas nas quais nos apoiamos constituem um reforço a tudo de negativo que abrigamos.
O desafio pode assumir proporções gigantescas quando adiamos a decisão de lidar com o que nos oprime. Procrastinar esta investigação ou simplesmente ignorar a existência destes focos de dor e desajuste nos aprisionam. A auto piedade e o isolamento também podem ser sutis e contribuem significativamente para o aumento do desconforto. Portanto, quando deixamos que as pessoas vejam quem somos e assumimos nosso protagonismo em relação ao que abrigamos, rumamos na direção da liberdade. Por isso, podemos e devemos exercer controle do que acolhemos como verdade, sem temer descartar e desapegar daquilo que nos limita. Ao julgarmos menos os outros seremos menos rígidos conosco.
“Cada vez que você faz uma opção está transformando sua essência em alguma coisa um pouco diferente do que era antes.” C S Lewis
Tendo coragem de esquecer
Coragem não é ir sem medo, é ir apesar do medo. Qualquer situação que pareça maior do que nós tende a nos intimidar. O tamanho de cada circunstância é determinado pelo valor que atribuímos a ela. Ou seja, podemos corajosamente decidir amplificar nossas conquistas, consequentemente, reduziremos a influência do medo. Já que, não se pode alimentar simultaneamente pensamentos tão antagônicos, um deles fatalmente desvanece. A ousadia de se perceber com potencial de superação e capacidade de recomeçar é inerente ao ser humano. No entanto, nem todos escolhem explorar seu potencial, contentando-se em viver na média.
“Se você estiver sempre tentando ser normal, você nunca vai saber o quão incrível você pode ser.” Maya Angelou
A decisão de abandonar, esquecer ou deletar os estilhaços de alguma batalha perdida, inicia no exato momento que identificamos o rombo que eles abriram em nosso interior. Fechar estas portas e curar estas feridas é a chave que abre janelas de oportunidades. Pessoas com biografias bem traumáticas se destacam na multidão quando usam sua dor com empatia. Pois, em níveis diferentes, cada um de nós já foi ferido e perdeu alguma guerra. Os vencedores e grandes heróis são os que, portanto, percebem-se de forma correta e não se deixam intimidar pelo tamanho do inimigo que enfrentam.
Somos merecedores
Só acolhemos aquilo que achamos que merecemos. Portanto, denunciamos possuir baixa autoestima, quando abrigamos críticas e rótulos de pessoas que nos desprezam, conformando-nos com eles. Pois, sempre que nosso valor sofre revezes com o que é externo, nossa estrutura interna é testada. Ao nos abalarmos em demasia diante dos conflitos, abrimos oportunidade para que o desânimo e a derrota se instalem. Os presentes que a vida nos oferece nem sempre possuem uma embalagem adequada. Por isso, temos que ter coragem de desembrulhá-los e, se necessário, customizá-los. Desta capacidade depende o avanço de nossos sonhos e projetos.
“Não havia sentido em oferecer a uma criatura, por mais inteligente ou amável que fosse, um presente que essa criatura seja, por natureza, incapaz de desejar ou receber.” C S Lewis
Devemos almejar o que é saudável e não o que nos contamina e envenena. Abrigar sentimentos negativos e amargura em relação aos que falharam conosco é um tiro em nosso pé. Já que lesiona muito mais nosso interior do que a pessoa que é alvo de nosso rancor ou ressentimento. Existem sentimentos tóxicos que devemos banir de nossa mente. Portanto, quando sorrateiramente quiserem ocupar o palco de nossas emoções precisam ser dispensados com rapidez. Existem sentimentos nobres que habitam nossa alma, como alegria, contentamento, gratidão e otimismo. Ao regarmos estas árvores, suas raízes desalojarão as ervas daninhas que nos afetam.