Enxergar o copo meio cheio e não meio vazio é decisivo e urgente. Pois, não existe possibilidade alguma de passarmos por esta vida sem algum nível de desafio e confronto. Porque, a estabilidade e imutabilidade tão perseguidas não existem na prática. Ou seja, nossas circunstâncias mudam constantemente e sobre muitas delas não temos gestão. Portanto, os que imaginam existir um lugar seguro onde possam, finalmente, permanecer imunes à qualquer contratempo, tendem a se frustrar. Já que este porto seguro não está disponível em nenhuma fase da vida.
“Amar é sempre ser vulnerável. Ame qualquer coisa e certamente seu coração vai doer e talvez se partir. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto, você não deve entregá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Envolva o cuidadosamente em seus hobbies e pequenos luxos, evite qualquer envolvimento, guarde-o na segurança do esquife de seu egoísmo. Mas nesse esquife – seguro, sem movimento, sem ar – ele vai mudar. Ele não vai se partir – vai tornar se indestrutível, impenetrável, irredimível. A alternativa a uma tragédia ou pelo menos ao risco de uma tragédia é a condenação. O único lugar além do céu onde se pode estar perfeitamente a salvo de todos os riscos e perturbações do amor é o inferno.”
Copo meio vazio
O copo estará sempre meio vazio para todos que possuem uma ótica pessimista da vida. Estes, certamente, terão dificuldade de ser gratos e de aprender com os erros. Para eles, o fracasso deve ser evitado à qualquer custo, mesmo que represente estagnação e retrocesso. De maneira idêntica fogem do autoconhecimento e da admissão de que abrigam pontos cegos, gavetas fechadas e um tipo de mentalidade que abomina o contraditório. Pois, sua ótica da vida é limitada e centralizada em sua própria vivência.
O time que visualiza o copo meio vazio em toda circunstância é o mesmo que critica qualquer iniciativa. É formado, também, por aqueles que não vibram com a conquista do outro, pois, deduzem que existe algum tipo de ilicitude vinculada àquela vitória. Ou seja, são pessoas que observam não para aprender e sim para questionar, criticam o que não entendem e não se abrem para o aprendizado. Por isso, rejeitam tudo que não cabe dentro da pequena caixa que criaram e a que chamam de vida. São pessoas pequenas que poderiam crescer, se assim desejassem, mas escolhem a mesmice.
“Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.”
Oscar Wilde
O copo meio cheio
Já os que enxergam o copo meio cheio, são pessoas que erram, que tropeçam e que não carregam só certezas, mas não temem o novo. Elas, também, são gratas, aprendem com o fracasso, pois se percebem como pessoas em processo de transformação e incompletas. Aprenderam que toda trajetória de aprendizado envolve risco e que só não erra quem não faz. Sabem, instintivamente, que existe mais à sua disposição e que feito é melhor que perfeito.
O time do copo meio cheio celebra pequenos progressos, vibra com as conquistas alheias como se fossem suas. Inspira-se nos exemplos, é curioso e faz perguntas e, acima de tudo, são pessoas que não se levam tão a sério, pois, aprenderam a rir de si mesmas. Contudo, elas aprenderam a importância de estabelecer limites, assim como, de escolher cuidadosamente quem permitem que esteja ao seu lado. Inegavelmente, selecionam os conselhos que escutam, pois, ouvem apenas quem está na “arena” com elas.
“Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho. Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!” Machado de Assis
Os isentos
Existe, no entanto, um terceiro grupo de pessoas que pensa poder ocupar uma posição de isento, ou se percebem como realistas. Para estes o copo nem está cheio tampouco vazio, já que ignoram a existência do copo. Eles não se comparam, não participam, não vivem. Talvez seja a pior posição a ser ocupada, pois, anular-se desta forma é morrer um pouco a cada dia. Maior esperança há para os que opinam sobre o copo estar meio vazio, do que para os que negam a existência do copo. Para estes a auto sabotagem virou regra, uma vez que se percebem soltas no grande universo da existência.
Para eles a vida não tem sentido algum. São vazios de significado e de propósito, acreditam que conseguirão passar pelas circunstâncias sem serem notados. Pensam, honestamente, que se não fizerem o mal já estarão fazendo um bem, desconhecendo a realidade que sua omissão é um mal em si mesma. É bem verdade que os mais afetados com esta postura são eles mesmos. Mas, ainda assim não há imunidade para a responsabilidade intrínseca de ser quem foram desenhados para ser. Pois, cada ser vivo, seja ele parte do mundo animal ou vegetal, nasceu com um propósito e foi desenhado para desempenhar uma função neste universo gigante.
Por isso, negligenciar nosso papel é passar pela existência sem deixar nossa digital. É o mesmo que sumir sem deixar rastro. Para estes a vida é oca, não importa quanto dinheiro possuam, nem o quanto estudaram e que posições ocuparam, já que nada disto significa estar desempenhando seu papel. Porque nossa vida precisa ultrapassar os limites de nosso ser para ter valido a pena.
“O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.”
Albert Einstein