O saber pode se expressar de maneiras distintas. Por isso, eleger corretamente o método utilizado para expressar o que conhecemos, exige sabedoria. Ou seja, o conhecimento avulso e desprovido de sabedoria nem sempre é identificado como saber. Pois, a pessoa sábia é aquela que se percebe como um eterno aprendiz e que essencialmente aprendeu a ouvir. Porque, toda sabedoria alicerçada em auto suficiência e orgulho é apenas informação. Ainda que seja um conhecimento profundo, será apenas teoria, se não tiver sido testado.
Curiosidade aliada à certa dose de disciplina e tenacidade nos conduz por caminhos que aumentam consideravelmente nossa capacidade de absorver conhecimento. Já que o verdadeiro aprendizado é absorvido através de nossos cinco sentidos de forma intuitiva. Uma boa leitura, por exemplo, pode provocar questionamentos que nos transformam. Assim como o que ouvimos nos afeta, podendo nos instruir ou confundir. O olfato, paladar e tato, inegavelmente, estão captando nuances que complementam o que vemos e ouvimos. Ou seja, nosso corpo foi estrategicamente desenhado para sorver o que nos rodeia. No entanto, cada um processa e utiliza estas informações de forma distinta.
Existem pessoas que escolhem não aprender com as circunstâncias, pois repetem erros cometidos. É fato que não somos à prova de fracassos, mas, cada vez que o novo nos desafiar e escolhermos errado; temos que corrigir o erro. No entanto, a repetição de um padrão que gerou resultados negativos, denuncia incapacidade de aprender. A linguagem não verbal e as circunstâncias precisam ser codificadas corretamente. Porque são fonte abundante de conhecimento e de respostas. Certamente não são apenas as nossas circunstâncias que nos ensinam. Inegavelmente, quando se deseja conhecer algo, a experiência do outro pode ser um bom ponto de partida.
“Só sei que nada sei.” Sócrates
Descobrindo como convém saber
Ainda que o aprendizado adquirido como fruto de observação seja legítimo, o conhecimento que mais nos afeta e influencia é o oriundo de uma experiência pessoal. Certamente é com base no que experimentamos que nossa alma recebe impressões poderosas que a modificam. Contudo, nem sempre estas impressões são positivas. Muitos possuem tatuados em sua psiqué fatos e traumas, que distorcem sua percepção. Ou seja, o processamento da informação é afetado por gravações antigas e doloridas que funcionam como filtros. Por isso, uma mesma situação vivida por pessoas diferentes pode produzir resultados muito diferentes.
De maneira idêntica, uma mesma palavra dita por alguém que passou ou viveu algo tem peso maior do que a que é simplesmente repetida ou citada. Certamente o que nos atrai e tem poder de chamar nossa atenção nem sempre é tangível. Capturamos nuances no tom da voz, na doçura da escolha das palavras e dos gestos que embelezam o saber. Assim como fica evidente a falta de controle, o nervosismo e a insegurança no discurso dos amadores. Por isso, o saber é um todo, envolve elegância, gentileza e empatia. Porque o sábio aprendeu a ocasião oportuna de falar e calar. Sua abordagem é honesta e firme, mas também é doce e gentil.
Portanto, a pureza da inteligência é testada nos momentos mais inesperados e conflitantes. A maturidade do julgamento e a retidão da vontade geram a discrição necessária; típica de quem sabe como saber. Nascemos com a necessidade de aprender e construir uma trajetória crescente de sucesso. Esta trajetória, no entanto, nem sempre é linear. Teremos momentos de aparentes retrocessos e quem sabe até de apatia. Contudo, mesmo a partir destes momentos, estamos sendo transformados. O movimento em busca do aprendizado produz avanços, já que inutiliza o ponto de partida. Ou seja, nosso andar elimina possibilidades e destrói algumas pontes que nos conectam a zonas de conforto.
“O homem comum fala, o sábio escuta, o tolo discute.” Sabedoria oriental
Lidando com a incerteza
Por isso, o ponto de partida nunca é o mesmo, ainda que aparentemente pareça ser. Pois, o processo de aprendizado transforma nossa estrutura emocional. Não raro, temos sentimento de perda e sentimos saudades de um lugar que não existe mais. Portanto, os que antipatizam com a incerteza e possuem tendência perfeccionista terão mais dificuldade de contabilizar progressos. Já que sua percepção é afetada por um padrão que não corresponde à realidade. Eles também terão dificuldade de celebrar vitórias alheias; pois não as reconhecerão facilmente. O aprendizado neste caso estará vinculado à disposição de lidar com estes filtros, eliminando-os.
O saber, portanto, pode ser a simples descoberta de que existe liberdade disponível. Liberdade para criar, errar e viver o hoje. Sucumbir ao medo ou à insegurança limita consideravelmente nossa capacidade de evoluir. O desaprender para reaprender é parte integrante da jornada rumo ao saber. Pois, os sábios não necessitam aplausos ou aprovação de quem os rodeia. Porque, sabem que não são perfeitos e nem pretendem ser. Reconhecem suas fragilidades e são generosos com erros cometidos por seus semelhantes. Levam-se menos a sério e, por isso, usufruem mais do hoje; preocupando-se menos com o futuro.
Quando sabemos que está fora de nosso alcance consertar os erros do passado; lidamos com as consequências destas escolhas com maturidade e honestidade. Já que, absorver as lições aprendidas; abrindo-se para os novos desafios, sem perder o entusiasmo e o otimismo é o que se espera de todos que desejam aprender. Pois, a vida é resultado destas escolhas, e nos conduz por caminhos diversos que nos moldam e embelezam. O saber, portanto, não é conhecimento puro e simples. É uma ótica curiosa e destemida que adquirimos quando deciframos corretamente nossa estrutura. A estagnação e o fatalismo são substituídos por um posicionamento consciente e ativo.
“O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes.” Cora Coralina
Vencendo limites
Os limites são considerados, contudo, não constituem barreira para o progresso daqueles que estão determinados em superá-los. Desculpas e justificativas não fazem parte da linguagem de quem valoriza a possibilidade de aprender. Os mestres serão tudo e todos, já que existe um pouco de sabedoria escondida em cada oportunidade e circunstância. O verdadeiro saber não ensoberbece. Porque faz parte do saber se perceber como finito dentro de um universo infinito.
A sabedoria, portanto, é adquirida por aqueles que descobriram que não existe limites para o saber. Por isso, eles também não se deixam limitar, nem mesmo por suas fragilidades. Pois, quanto mais avançam, tanto mais certos estão de que nada é permanente e que estamos sempre nos transformando. A plasticidade do cérebro precisa ser explorada e nela começam as decisões rumo ao desconhecido. Desbravar territórios não conquistados em nós e fora de nós é o que nos faz sábios.
“Sabemos o que somos, mas não sabemos o que poderemos ser.” William Shakespeare