novo pede espaço

Sempre que algo novo desponta, o velho morre ou é substituído. Aqui se aplica a velha regra da física que estabelece que dois corpos não ocupam, ao mesmo tempo, o mesmo lugar no espaço. Ou seja, por mais que tenhamos dificuldade de desapegar ou transicionar, a mudança exigirá desprendimento. O novo pressupõe mudança de atitude, de postura, de perspectiva e, especialmente, de mente.

Já que tudo começa de dentro para fora, nossa mente é a primeira que precisa ser renovada. Não importa a quantidade de mudanças que já tenham acontecido em nossa vida; cada vez que algo novo se estabelece, há necessidade de reciclagem. Algumas mudanças são doloridas e demoradas. Certamente as transformações profundas, precisam se estabelecer gradativamente.

Por isso, o imediatismo talvez grite e exija atenção. Mas, nem tudo acontece da noite para o dia. Estamos entrando em um novo ciclo. A contagem dos anos, meses e dias facilitam nossa contabilidade. Isto é, analisar progressos e conquistas a curto, médio e longo prazo, nos ajudam a identificar mais facilmente as lacunas. Inegavelmente nenhuma pessoa está terminando o ano do jeito que começou.

A contabilidade da vida

No entanto, nem sempre gostamos dos resultados colhidos ao longo do ano que passou, ou quem sabe da última década. A análise honesta nos permite ajustar os pontos negativos e reprogramar nossa estratégia. Ser coerente no estabelecimento de metas é determinante para que possamos alcançá-las. Pois, é sempre melhor possuir objetivos realistas e conseguir superá-los, do que super estimá-los e fracassar.

Este costuma ser um período em que pessoas se comprometem em mudar hábitos. Perder peso, exercitar-se, voltar a estudar, ter mais tempo com a família, se levar menos a sério, podem ser algumas metas. Cada uma destas resoluções exigirá que um velho hábito seja substituído. Nosso apego e condição emocional para lidar com esta substituição, determinará o sucesso de nosso objetivo.

Os grande empreendedores e pessoas de sucesso são unânimes em afirmar que tudo que vale a pena exigirá esforço. Aquilo que conquistamos sem empenho, em geral, não perdura ou não é tão valioso assim. O novo hábito ou rotina se estabelece com doses de disciplina, determinação e foco. O preço da mudança quase sempre é alto, no que diz respeito a ratificar diariamente nossa decisão, sem desistir. Portanto, a perseverança é uma chave importante.

Abraçando o novo

Certamente o que se pretende alcançar deve ser mais valioso do que aquilo que temos disposição de abandonar. Pois, ninguém em sã consciência, substitui algo bom por algo ruim. Obviamente nem sempre fazemos escolhas sábias. No entanto, mesmo quando descobrimos que o velho era melhor, somos transformados. Pois, a pessoa que fez a escolha não é a mesma que lida com as consequências da escolha feita.

Ou seja, mesmo o erro nos modifica e é um grande professor. A pessoa que erra é aquela que tem coragem de fazer. Pois, o aprendizado se dá quando assumimos o protagonismo de nossa vida e paramos de atribuir culpa a quem quer que seja. Nem sempre este mau hábito de achar desculpas para ausência de resultados positivos é consciente.

Talvez seja um comportamento adquirido instintivamente, que precisamos identificar. Contudo, mesmo nestas circunstâncias, temos condições de nos posicionar e lutar pela mudança deste comportamento. Pois, o novo se estabelece a partir desta determinação. Afinal, a mudança acontece mesmo quando não temos consciência dela.

“Substituímos o adjetivo descritivo “inalterado” pelo adjetivo emocional “estagnado”. Lhes ensinamos a pensar no futuro como uma terra prometida que alcançam os heróis privilegiados, não como algo que alcança todo mundo ao ritmo de sessenta minutos por hora, faça o que faça, seja quem é.” C S Lewis

É importante classificar corretamente

“Não há assunto tão velho que não possa ser dito algo de novo sobre ele.” Fiódor Dostoiévski

Quando classificamos algo como velho ou obsoleto, estamos considerando que está ultrapassado ou sem serventia. Mas, o velho nem sempre é algo nocivo, que deva ser descartado. A arte de classificar corretamente o que deve ou não ser descartado e substituído é regida pela sabedoria. Pois, ao eliminarmos indiscriminadamente o velho, corremos o risco de demolir alicerces importantes, para o estabelecimento do novo.

Porque o novo se estabelece e se consolida através do acúmulo de experiências que o velho nos propiciou. Por isso, qualquer um que não saiba ler corretamente estes ensinamentos, pode esbarrar em alguns empecilhos. Ou seja, a jornada dos tolos os leva andar em círculos. Ao passo que os sábios acrescentam ao velho o que tem poder de renová-lo. Pode parecer contraditório, contudo o novo exige que descartemos o que é obsoleto e conservemos o que é fundamento.

O novo ano que se aproxima nos oferecerá algumas folhas em branco que somos chamados a preencher. Mas, outras já virão preenchidas. Pois, são resultado do que vivemos até aqui. Nosso desafio é preencher corretamente os espaços em branco e abrir novos espaços. Só nós podemos riscar e eliminar alguns registros, e ao fazê-lo, estamos abrindo mais espaço para o novo. Contudo, fazer isso sem critério pode comprometer a velocidade do progresso que se pretende atingir.

Abrindo-se para o novo

Quando entendemos a dinâmica do novo, não temos receio tanto do descarte quanto da permanência. A liberdade de fazer escolhas e mudar rumos pode parecer confusa, no entanto, é o que norteia os avanços. Por isso, ainda que tenhamos objetivos claros, eles só serão estabelecidos se houver flexibilidade. Ou seja, quanto mais maleáveis formos, tanto mais fácil será a transição. Crescer e amadurecer exigirá capacidade de adaptação.

Portanto, desaprender, reaprender, acrescentar e até retroceder são estratégias importantes. O avanço, em algumas circunstâncias pode ser sinônimo de voltar ao ponto de partida. Saber resgatar o lugar do desvio talvez garanta a correção de rota. Nos aparelhos eletrônicos atuais, existe a opção de voltar à configuração de fábrica. Esta opção elimina por completo os registros feitos até então. Por vezes é o único recurso que temos para resolver um problema.

Certamente, em nossa vida não é diferente. Ter coragem de resetar, resgata a chance de ajuste. Portanto, seja eliminando o velho, ou aproveitando-o, o novo pedirá espaço. Não só na virada do ano, mas em cada novo dia que amanhece, temos chance de fazer diferente. Que este novo conjunto de 365 dias seja bem aproveitado por cada um de nós. Temos uma certeza apenas: eles não voltam.

FELIZ ANO NOVO!