a espera não é fácil

A espera é sempre desafiadora. Por isso, não importa muito o que estejamos esperando, estes períodos extraem de nós reações incubadas, nem sempre identificadas facilmente. Seja uma simples fila, até aquilo que esperamos ao longo dos anos, pode desencadear reações diversas. Ninguém gosta de ter a sensação de estar desperdiçando tempo. Muitas vezes a visível incompetência de quem interage conosco, é responsável por esperas indesejadas, que talvez pudessem ser evitadas. Seja lá como for, esperar não é uma arte que dominamos por completo. Existe algo relacionado à demora do que esperamos que pode nos abater e até derrotar.

Quanto mais jovens somos, mais imediatistas temos tendência de ser. Mas a dificuldade de esperar não é exclusividade dos mais moços. Pessoas idosas, apesar de serem naturalmente menos ansiosas, também não dominam completamente a arte de aguardar. Pois, enquanto aguardamos, nossa ansiedade vem para superfície, assim como nosso senso de justiça própria. Em geral, quando outros parecem ultrapassar nossa vez, nos sentimos preteridos e incomodados. Conceder a vez para quem nos pede passagem no trânsito, em uma fila, ou em qualquer outro lugar, parece ofensivo, podendo gerar conflitos desastrosos.

No entanto, não é só a ansiedade que nos abate nos períodos de espera. O medo também aparece e complementa a equação. Tememos não ter tempo suficiente, ou quem sabe não concluir o que começamos. Tememos que existam outros melhores do que nós, mais velozes, mais capazes. Muitos fantasmas se levantam nos momentos de espera. Um caso típico é a gravidez. Muitas mães se abatem facilmente quando imaginam que o bebê possa ter algum problema. Acolhem pensamentos que antecipam as complicações do parto; que talvez nem aconteçam, mas que atormentam suas mentes. Na verdade a espera tem poder de desencadear ondas de pessimismo.

“O que vale a pena possuir, vale a pena esperar.” Marcelo A. Pereira

Lutando contra a ansiedade da espera

Um dos vilões que mais tem aparecido em nossos dias é a ansiedade. Nunca antes como agora, se teve tanta velocidade para processar informação. Mas, isso ao contrário do que se espera, não reduz em nada nosso grau de ansiedade. Pois, quanto mais velocidade temos para adquirir coisas, mais dificuldade temos de esperar por elas. O tempo de espera de algumas coisas foi absurdamente abreviado. No entanto, ainda nos debatemos. Nossos pais e avós esperavam por notícias de familiares e amigos distantes, por meses e até anos. Na atualidade, independentemente de onde estejamos, a tecnologia nos conecta em tempo real rapidamente. Mas, para alguns isso ainda não é suficiente.

O comportamento imediatista é viciante. E como em qualquer outro vício, tem a tendência de nos impulsionar a querer mais do mesmo. Pois, quando estamos viciados em algo, nosso metabolismo exige doses cada vez maiores de determinada substância e/ou comportamento. Já que, quantidades menores não são capazes de gerar a sensação de prazer que buscamos. Este mesmo princípio rege a velocidade frenética que impomos à nossa rotina e metas. Este comportamento está impregnado em tudo que fazemos ou adquirimos, de forma sutil e quase imperceptível. Um bom parâmetro é comparar nossa velocidade com a de alguém mais jovem e mais velho também.

Enquanto os mais jovens parecem nascer plugados em 220V; os mais velhos parecem ter entendido algo que eles desconhecem. Um dos aspectos que precisa ser avaliado é que nenhum grau de ansiedade gera velocidade ou minimiza o tempo de espera. Pelo contrário, a ansiedade tem potencial de distorcer alguns fatores. Isto é,  durante o tempo de espera, podemos facilmente amplificar circunstâncias, tendo dificuldade de encontrar soluções para situações corriqueiras. Diz-se que por vezes conquistamos mais depois de algumas horas de sono e descanso, do que quando estamos exaustos e esgotados.

Existe uma velocidade que não nos agride

Cada um de nós tem uma estrutura emocional e física que precisa ser respeitada. O que pode ser demorado para alguns, pode estar acontecendo no tempo adequado para outros. Não existe uma idade limite ou um prazo de validade para os sonhos que temos. Se alguns projetos falharam, ou se esperamos por anos algo que ainda não aconteceu, isto não é sinônimo de derrota. O dia de hoje pode ser um bom momento de retomar a expectativa da resposta. O mais nocivo da espera é quando ela nos rouba o entusiasmo. Toda conquista deve ser celebrada e nenhuma delas é tardia.

As histórias de superação sempre nos inspiram, porque contem o ingrediente mágico da perseverança. Em um mundo cada vez mais competitivo e agressivo, nos sentimos compelidos a perseguir alvos irracionais e que não nos representam. Poucos possuem sanidade de avaliar o que os move de fato. Já que a comparação com quem quer que seja, não deve ser o ponto de partida para o estabelecimento de qualquer meta. Sempre que nossa motivação está em algo externo temos mais chance de fracassar. A verdadeira motivação, que é capaz de sustentar qualquer período de espera, nasce em nosso interior.

É quando descobrimos quem somos de fato e do que somos feitos, que aumenta nossa resistência nos tempos de espera. É legítimo possuir metas e alvos, porque sem eles nossa vida fica esvaziada de significado. Mas, o risco de assumir posturas inadequadas aumenta, quando tentamos ser quem não somos. Temos uma essência que precisa ser respeitada, para que o tempo de espera não nos destrua. Quando as metas são coerentes e adequadas ao nosso perfil pessoal, profissional e emocional, temos mais chance de sobreviver ao tempo de espera. Do contrário seremos esmagados por uma pressão que pode muito bem nos destruir.

A arte da espera

“Que medo alegre, o de esperar.” Clarice Lispector

Se existe um medo alegre, este deveria ser o de esperar. A arte de esperar consiste em compreender que tudo que vale a pena não se conquista da noite para o dia. Tudo que tem consistência exige dedicação e envolve tempo; tempo de espera. A espera é mais ativa do que imaginamos, quando vivenciada com expectativa da conquista. Ela é nociva e perigosa quando está contaminada pelo medo e pela ansiedade. O otimismo e a esperança são os ingredientes que temperam com brilhantismo o tempo de espera.

Por isso, somos sábios quando atentamos para o fato que temos que esvaziar nossa mente de condenação e pessimismo nestas estações. Assim como, temos que celebrar as pequenas conquistas que antecedem os alvos maiores que estabelecemos. Ainda que nossa trajetória esteja sendo percorrida em velocidade inferior à desejada, certamente existe beleza no percurso. As particularidades e detalhes da caminhada também adornam o prêmio que perseguimos. São estas nuances e traçado que desenham nossa história e nos transformam em quem somos.

Existe beleza na espera, porque ela remove algumas arestas cortantes que possuímos. Ela extrai os excessos e purifica nossas motivações. A espera denuncia as fragilidades e destaca as fortalezas. A verdadeira espera não é passiva, ela é ativa sempre que promove transformação. Quando o que desejamos é autêntico e sólido a espera acrescenta valor e significado. Esperar é uma arte dominada por todos que sabem quem são e para onde estão indo. Em nossa jornada, cruzamos com pessoas menos perseverantes e menos otimistas. Para estas, a espera certamente é mais penosa. Podemos escolher como iremos esperar, sendo transformados enquanto aguardamos.

“Tudo alcança aquele que trabalha duro enquanto espera.”  Thomas Edison