menos é mais

Menos é mais na maioria das vezes. Ser minimalista é uma tendência dos tempos modernos. Buscamos praticidade e rapidez como meio de sobrevivência em um mundo frenético que nos atropela constantemente. Nosso olhar é disputado por uma mídia cada vez mais apelativa, que tenta nos convencer que nos falta algo. No entanto, quanto mais temos, menos satisfeitos estamos. Pois, não é o externo ou o que temos que nos preenche de fato. Adquirimos o último modelo de qualquer coisa, porque o modelo antigo não possui a facilidade extra oferecida.

Inegavelmente somos atraídos por aquilo que agrega conforto e praticidade para que tenhamos mais horas livres. No entanto, preenchemos estas horas com mais atividades, sem conseguir de fato, otimizar nosso tempo. Todos parecem ter algum nível de consciência e pensamento unânime no que se refere à utilização correta do tempo. Ou seja, concordamos que não podemos desperdiçá-lo. Já que é o bem mais precioso que temos. Contudo, perdeu-se gradativamente a capacidade do descanso sem culpa. Aquele tipo de lazer onde se lê um bom livro, ou se toma uma xícara de chá ou café com um amigo.

Os passeios no parque são raros, e as caminhadas longe do celular são quase inexistentes. A ditadura do relógio está presente em tudo o que fazemos. Pois, a geração atual nasce com um computador e um celular no criado mudo. Os que pertencem à geração anterior, como eu, tentam se adaptar à imposição dos tempos modernos. Sem dúvida a tecnologia é um apoio importante que agregou não só velocidade, mas também aproximação eficiente e eficaz do contexto global. O acontecimento do continente distante é divulgado com o mesmo detalhamento e em tempo real, competindo com o episódio ocorrido em nosso bairro. No entanto, existe um aspecto negativo desta globalização da informação que nos afeta. Inegavelmente estamos menos atentos ao que realmente importa, devido ao excesso de conteúdo que recebemos.

“A simplicidade é o último grau de sofisticação.” Leonardo da Vinci

A velocidade das horas

Os dias continuam tendo vinte e quatro horas. Foi esse o número de horas que nossos avós e pais utilizaram para construir sua trajetória. Sem dúvida o ser humano continua precisando de tempo de descanso, lazer e de uma alimentação saudável para viver melhor. O que mudou radicalmente é o uso que fazemos de nosso tempo. Quanto mais pesquisa fazemos, mais comprovação temos de que fomos desenhados para um estilo de vida simples. Contudo, isso não é sinônimo de falta de praticidade, e sim de ausência de excessos. Buscar este equilíbrio é decisivo para os que entendem que não nasceram por acaso. Por isso, empenham-se para atingir sua meta.

Atualmente temos crianças acessando muito mais informação do que no passado, no entanto estão mais confusas em relação à sua identidade e valor. Pais cada vez mais ocupados substituem tempo com os filhos por programas e objetos de consumo. A internet e a tv disputam espaço na rotina das famílias e subtraem diálogo do tempo que desfrutam juntos. Até a comunicação escrita sofre limitações, pois as redes sociais estimulam o uso de uma linguagem abreviada e cada vez menos eficiente. As pessoas de forma geral têm dificuldade de elaborar um pensamento e de posicionar-se sobre o que realmente pensam.

Na era da fake news e da digitalização da informação as massas são facilmente manipuladas. O marketing digital está em alta, e busca abocanhar uma fatia cada vez maior de mercado. Para todo lado que olhamos existe urgência, que rouba facilmente o lugar do que é importante em nosso cotidiano. Temos dificuldade de descartar coisas supérfluas para abrir espaço para o que é imprescindível. Se a solução fosse simples e imediata já teríamos revertido alguns índices. No entanto, mudar a cultura de uma geração envolve tempo e reeducação. Temos o desafio de reverter um aumento crescente de pessoas confusas e perdidas em relação a seu futuro.

“Tudo deveria se tornar o mais simples possível, mas não simplificado.” Albert Einstein

Simplicidade é menos

Precisamos ter coragem de reavaliar nossas prioridades. A maneira como usamos nosso tempo e recursos financeiros revela muito à respeito do que valorizamos. Não precisamos desmontar todo nosso planejamento, mas certamente é importante avaliar o perigo de ser levado pela correnteza. Seria coerente que cada um, em uma velocidade e contexto específico, ousasse medir com honestidade, se está envolvido em atividades que contribuem efetivamente para atingir seus objetivos. Talvez alguns nem possuam metas reais para perseguir, pois estão sendo arrastados pela avalanche das urgências.

Especialmente nos últimos meses nossa nação passou por vários desafios. Fala-se em crise da educação, da saúde, das finanças e com certeza tudo isto é preocupante. Não podemos ignorar o cenário econômico e social no qual estamos inseridos. No entanto, mais importante do que tentar consertar o mundo é a tarefa de iniciar, em pequena escala, um ajuste em nossa vida. Os índices de pessoas, especialmente crianças, tratando-se de doenças oriundas de stress é alarmante. São muitas as oportunidades que temos de permanecer cativos a um ciclo vicioso que nos paralisa e destrói.

Conta-se de um grupo de pessoas a quem foi dada uma imagem do mapa mundi em formato de quebra-cabeças. Seu desafio era montá-lo no menor tempo possível. Para surpresa de todos, um dos participantes montou a imagem em tempo record. Quando questionado à respeito da estratégia que havia adotado, explicou que o verso da imagem do mapa continha a imagem de um ser humano. Portanto, quando o ser humano foi ajustado, o mapa mundi naturalmente foi montado. A simplicidade deste exemplo é a ilustração perfeita do que significa começar pelo princípio. Pois o ser humano é o princípio de tudo.

“O assunto mais importante do mundo pode ser simplificado até ao ponto em que todos possam apreciá-lo e compreendê-lo. Isso é – ou deveria ser – a mais elevada forma de arte.” Charles Chaplin

Focando no ser humano

Certamente, não temos capacidade de consertar o mundo, se não arrumarmos nossas prioridades e valores. Por mais nobre que possam ser nossos ideais, eles só serão coerentes e factíveis se estiverem em harmonia com quem somos. A vida simples não é aquela de alguém que se isola dos apelos urbanos. Mas, é a vida dos que não se deixam consumir por atividades e conquistas que comprometem sua essência. Quando o indivíduo é ajustado de dentro para fora seu contexto de vida muda. Consequentemente essa mudança influencia o meio em que está inserido.

A linha entre o que é importante e supérfluo é tênue. No entanto, se formos honestos, adquirimos gradativamente uma rotina de consumo constante que nos suga. A busca por mais é legítima quando não está fundamentada em uma mentalidade de escassez permanente. É contra este tipo de pensamento que temos que lutar. Pois, na prática, a maioria de nós tem o básico de que precisa. Falta-nos consciência de que o pouco com contentamento é mais do que o muito com conflito. Temos que cultivar uma atitude de gratidão em relação ao que possuímos. São estas premissas que nos capacitam a viver com menos e mais felizes, onde o menos é mais.

“O ser humano vivencia a si mesmo, seus pensamentos como algo separado do resto do universo – numa espécie de ilusão de ótica de sua consciência. E essa ilusão é uma espécie de prisão que nos restringe a nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto por pessoas mais próximas. Nossa principal tarefa é a de nos livrar dessa prisão, ampliando nosso círculo de compaixão, para que ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza em sua beleza. Ninguém conseguirá alcançar completamente esse objetivo, mas lutar pela sua realização já é por si só parte de nossa liberação e o alicerce de nossa segurança interior.” Albert Einstein