mudar é desafiador

Toda mudança envolve algum nível de adaptação e desafio. Quanto mais profundas forem as raízes, tanto mais difícil será o processo de desapegar-se e mudar. Possuir raízes é legítimo e indicado, já que, precisamos de um porto seguro. Neste aspecto, inegavelmente, os laços familiares constituem a primeira experiência legítima e fundamental  de nossa existência. Pois, são elas que estruturam nossa psique para, naturalmente, lidar com transformações.

As diversas fases da vida sugerem mudança. Elas são sutis e quase imperceptíveis em algumas estações, mas podem ser radicais e decisivas em outras. Buscar transições graduais e programadas seria ideal, se o controle de todas as variáveis fosse nosso. No entanto, na prática, o cenário ideal não existe. Porque somos afetados por circunstâncias e decisões de terceiros que nos impactam direta ou indiretamente.

Por isso, a reação diante dos imprevistos, bem como a capacidade de se ajustar pode determinar o sucesso de nosso futuro. Pois, desde muito jovens absorvemos padrões de comportamento dos que nos rodeiam. Portanto, se estamos inseridos em ambientes saudáveis que promovem mudanças, incentivando o risco, teremos mais facilidade de transicionar. No entanto, se o contexto sugere estabilidade e previsibilidade, lutaremos mais para romper na direção oposta.

O progresso é impossível sem mudança; e aqueles que não conseguem mudar as suas mentes não conseguem mudar nada.” George Bernard Shaw

Identificando os pontos fracos

Em qualquer análise organizacional moderna, sugere-se a identificação de pontos fracos e fortes. Já que as organizações estão em busca de crescimento e superação. Inegavelmente será mais fácil reconhecer pontos fortes do que fracos, tanto nas organizações como em nossa vida. Porque nossas habilidades e competências destacam-se naturalmente naquilo que executamos, e constituem nosso alicerce.

Contudo, todo ser humano que ignora ou escolhe não lidar com suas lacunas (pontos fracos), tende a estacionar em sua jornada. Certamente não é fácil admitir falhas e decidir aprimorar aspectos menos desenvolvidos de nosso perfil ou personalidade. Quanto mais tempo permanecemos em zonas de conforto, tanto mais desafiadora se torna a mudança. Mas, tanto a estabilidade plena, quanto a instabilidade constante são nocivas.

Existem pessoas completamente estagnadas no que lhes é familiar e que não analisam ou admitem a possibilidade de mudar. No entanto, o oposto disto é o comportamento que se apoia na mudança constante como meio de fugir do que realmente importa. A capacidade de dosar de forma coerente estes dois aspectos de nossa existência é o que aproxima-nos dos grandes avanços. Por isso, qualquer fator que estejamos usando como argumento ou justificativa para explicar nossas derrotas, não é válido.

Sábios são os que aprendem com os erros e transformam os fracassos em oportunidades de aprendizado. Outro fator importante desta equação é considerar que nenhum ser humano é bom em tudo que faz. Todos fazem bem determinadas coisas e não tão bem outras. Nosso alvo jamais deve ser atingir qualquer nível de perfeição que descarte a necessidade de aprimoramento. Seria ingenuidade e até arrogância perceber-se desta forma e se imaginar vivendo sem interdependência.

Começando pelo princípio

O dia de iniciar uma mudança é hoje. O ontem não está disponível e o amanhã é sinônimo de procrastinação. Temos que ter coragem de começar com o que temos, estabelecendo voluntariamente uma linha de corte. O antes e o depois em nossas vidas acontecem quando temos coragem de assumir o protagonismo de nossa história. Porque ninguém pode ser responsabilizado pelos rumos que nossas circunstâncias assumiram. É bem verdade que não podemos alterá-las, mas devemos escolher que atitude assumiremos diante delas. Pois, o progresso que almejamos, é antecedido por posicionamentos conscientes e maduros.

“A mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente irão com certeza perder o futuro.” John Kennedy

Tais avanços podem ser imperceptíveis aos olhos da multidão, mas devem ser celebrados por nós. Ainda que não sejam reconhecidos e valorizados por outros, é importante que tenhamos consciência do que representam em nosso contexto de vida. Além de atribuir valor e celebrar as conquistas, é importante não estabelecer comparações com nossos pares. Nenhum ser humano é completamente igual ao outro, visto que somos produto da soma de fatores distintos. Por isso, é um equívoco medir quem somos com a régua de outra pessoa. Pois, temos uma identidade única.

O útero onde a identidade sólida é concebida, é aquele onde há aceitação incondicional, e onde o erro não define quem somos. Quando nossas conquistas ou fracassos determinam quem somos, tornamo-nos incapazes de gerir nossas emoções. Embora seja recomendado perseguir progressos, é um erro consentir que nos retratem. Pois somos mais do que a soma de fracassos e sucessos alcançados. Nosso valor está intrinsecamente relacionado à capacidade que temos de estimar nossa existência. Ou seja, temos valor porque somos uma obra-prima, insubstituível e porque nascemos com um propósito.

Enxergando o quadro todo

A ótica cristã da humanidade, atribui significado individual ao ser humano. Em minha concepção não existe nenhum outro fundamento sobre o qual devamos alicerçar nossa existência. Qualquer proposta que descarte esta premissa estará catalogando-nos e limitando-nos. Embora para alguns isto não esteja claro, a principal missão de Jesus foi resgatar nossa conexão com Deus Pai Criador. Sem este resgate permanecemos órfãos, e nossa existência passa a ser fruto do acaso.

Encaixar nosso dia, horas e minutos num espectro macro é o que nos capacita a lidar com o micro. Por isso, o valor que damos à pedra na qual tropeçamos será proporcional ao tipo de trajetória na qual nos percebemos inseridos. Quando olhamos o desenho de cima, e portanto,  discernindo para onde estamos indo, temos maior capacidade de lidar com os tropeços. Porém, se estamos confusos em relação ao nosso valor e, especialmente, em relação ao nosso destino, sofremos mais com as derrotas.

Mesmo correndo o risco de ser simplista demais, o resumo de tudo é perseguir uma identidade sólida. Tal identidade precisa ser moldada e aprimorada. Certamente não temos todos os instrumentos para construí-la. Por isso, precisamos de um relacionamento com Deus que agregue significado e capacitação para os momentos desafiadores. Com as peças fundamentais da equação ajustadas, as mudanças acontecem de forma saudável e instintiva. Porque fomos desenhados para perseguir sonhos e crescer de dentro para fora. Porém, sem ajustes diários e constantes esta meta não é atingida.

“Podemos escolher sofrer a dor da mudança, ou a dor de continuar do jeito que estamos.” Joyce Meyer