menino na manjedoura

A figura do menino em uma manjedoura consagrou-se como símbolo do cristianismo. Pois, assim como a cruz, a manjedoura e a cena do presépio são imagens vinculadas à fé cristã, que marcam o final e início da vida do Salvador, respectivamente. Mesmo para os que não se identificam com esta expressão de fé e que, portanto, elegem para si outros formatos de crenças, certamente, esta simbologia não é ignorada. Afinal, no mundo ocidental, o nascimento deste menino dividiu a contagem dos anos em antes e depois de Sua passagem pela terra. Ninguém que tenha influenciado a história desta forma pode ser, simplesmente, descartado. Sua trajetória despretensiosa e praticamente anônima inicia em um lugar pouco convencional. Já que, o nascimento de um suposto Rei e Messias, deveria ser cercado da pompa que a circunstância requer.

O alarde, no entanto, ecoou no coração de uns poucos pastores e de alguns reis vindos do oriente, que presenciaram a cena que passava totalmente despercebida do olhar desatento dos que ocupavam-se com sua própria vida. Em meio ao feno, palha, mau cheiro e aparente improviso, nascia o menino que a nação judaica não reconheceu como seu libertador, crucificando-o. Ele, no entanto, foi reconhecido do nascimento até a morte por aqueles poucos que não deixaram que a religião e as tradições sufocassem a verdade para qual Sua vida apontava. Dentre eles estão doze homens pescadores, iletrados que o seguiram por cerca de três anos e meio e de onde saiu, também, um traidor. As pessoas que tiveram olhos para ver e ouvidos para ouvir foram as que receberam por Seus lábios a resposta do que buscavam. Ou seja, foram abençoados com cura, restauração, libertação e encontraram sua real identidade.

Simeão e Ana

Simeão e Ana são dois personagens que identificaram no bebê de poucos dias o Salvador do mundo. Os dois anciãos podiam não ter uma visão física muito acurada, mas com os olhos atentos do coração, contemplaram o que os religiosos e soberanos de sua época não viram. Com os olhos espirituais, identificaram o cumprimento da promessa do Redentor. Isto é, aquele momento coroava suas jornadas que haviam sido edificadas sobre o alicerce sólido de que Deus Criador tinha um compromisso com a criatura. Pois, os que como eles entendem este princípio, dedicam tempo e priorizam este relacionamento, discernindo que o interesse do Criador pelo homem deve ser recíproco para ser real. Porque, qualquer que se perceba como peça do grande quebra-cabeça do universo, esforça-se para corresponder ao papel que foi destinado a desempenhar na companhia e com a parceria de Deus.

Contudo é primordial que, à semelhança do Mestre, tenhamos humildade para celebrar os pequenos e anônimos momentos, sabendo que existe um único par de olhos que nos contempla e diante do qual estamos nus, completamente desprovidos de qualquer subterfúgio, como estava o primeiro homem criado. Sim, somos todos como Adão no jardim do Éden diante do Último Adão. Portanto, não temos razão de buscar aprovação, aceitação ou motivos para tentar impressionar Aquele que nos conhece por inteiro e diante de quem estamos descobertos e para quem somos como pó, pois, dele fomos formados e para ele voltaremos. Por isso, quando esta realidade é desvendada, o nascimento do menino na manjedoura faz todo sentido e encaixa-se, coerentemente, na história que teve início antes da fundação do mundo.

O salvador menino

O primeiro Adão não nasceu menino como o Último Adão, porque ao primeiro foi concedido o privilégio de relacionar-se com Seu criador sem a barreira do pecado. Ele havia sido criado à imagem e semelhança de um Deus amoroso e misericordioso que tem prazer em relacionar-se com a criatura. No entanto, o resgate daquela comunhão diária exigia um sacrifício e Deus estava disposto a fazê-lo. Ele entregaria Seu Filho unigênito, para que fosse transformado em primogênito, incluindo nesta família, novamente, aqueles que desejassem ter relacionamento com Deus Pai. O menino nascia na manjedoura para repartir o Pai conosco, devolvendo-nos a identidade de filhos e imprimindo em nosso espírito a imagem do Deus que é essencialmente amor.

Não por acaso, na época de Seu nascimento, como nos dias de hoje, só seguem seus passos aqueles que tem olhos para ver e ouvidos para ouvir aquilo que permanece oculto para os que estão cegos pelo orgulho, autossuficiência e independência. Certamente, estas palavras são substituídas por rótulos mais atraentes e que não denunciam a orfandade presente no íntimo de todo aquele que decide trilhar sua jornada terrena ignorando a passagem deste menino pela terra. Não se trata, portanto, de reconhecê-lo nos quadros e pinturas, nas canções ou até mesmo nos encontros organizados para, pretensamente, celebrar Sua vida. Mas, de se deixar afetar e moldar por Seus ensinos, escolhendo segui-lo para o lugar de morte, onde nasce a verdadeira vida.

Jesus é Deus homem

Jesus é esse menino que desde Seu nascimento revelou o coração do Pai. Ou seja, o Pai que inclina-se para a humanidade e oferece o resgate para a condição de orfandade que o pecado inaugurou. O Pai demonstra Seu amor no Filho, nascido sem pecado, expondo-O ao pecado por amor do pecador. O resgate custou Sua vida e dividiu a história em dois blocos, ou seja, aqueles que iniciaram antes de Seu nascimento dos que seguem existindo depois dEle. Mesmo sendo Ele o Criador de todas as coisas, limitou-se ao tempo e espaço para revelar o caráter de um Deus que ama a criatura de forma explícita e inequívoca através da cruz. Por isso, não aceita nenhum outro tipo de amor em contrapartida, que não aquele que se manifesta de forma igualmente cristalina e categórica de nossa parte. O Filho declara aos que desejam segui-lo, sem nenhum rodeio, que tomem sua própria cruz e caminhem para o lugar de morte de seus desejos humanos e limitados, substituindo-os pelo que é eterno.

O apelo não é algo aguado ou barato, já que custa tudo. O tudo, no entanto, é quase nada ou pode ser considerado refugo quando colocado em perspectiva. Já que, à luz da eternidade, nossa rápida passagem por esta terra adquire novo significado, inevitavelmente, afetando nossos valores e prioridades. Não fosse por isso o menino teria buscado a fama, o reconhecimento e o aplauso daquela geração, assim como fazem os que ainda hoje não entenderam o que seu nascimento representa. Por isso, não é filho de Deus aquele que apenas habita na terra, mas todo aquele que reconhece na morte do Filho unigênito o resgate promovido pelo Pai. Se outra oferta fosse suficiente ela teria sido feita e aceita, mas como custou tudo, não seria lógico que não implicasse na entrega radical e definitiva de nossa vida em Suas mãos.

“O cristianismo, se é falso, não tem nenhuma importância, e, se é verdadeiro, tem infinita importância. O que ele não pode ser é de moderada importância.” C S Lewis

Feliz Natal!