codificando sinais
Sinais existem para orientar-nos, nas diversas áreas da vida. Eles são usados no trânsito, nos ambientes públicos e privados. Os limites de velocidade, as placas com nomes de rua, as demarcações das cidades; cada código tem um papel específico. Originalmente um sinal é criado para facilitar nossa localização e promover segurança. Contudo, quando os sinais não estão claros ou não são adequados, corremos risco de sofrer algum prejuízo. No entanto, decodificar corretamente um sinal não exige apenas que ele seja claro. Mas, também que conheçamos seu significado. Uma mensagem é bem transmitida quando o emissor e o receptor usam códigos familiares.

A vida emite muitos sinais ao longo de nossa jornada. Saber interpretá-los é decisivo para que nossa integridade seja preservada. Nosso corpo é um grande emissor de sinais. Quando ignoramos o cansaço, a dor ou algum sintoma persistente, corremos risco de desenvolver alguma patologia mais grave. Igualmente, nossa mente sinaliza constantemente aspectos de nossa alma que precisam ser corretamente codificados. Cada um de nós possui capacidade de aprender a lidar com os sinais emitidos pelo corpo e pela alma. Este autoconhecimento é decisivo quando se pretende ser saudável e viver com intensidade o que a vida nos oferece.

No entanto, ignorar sinais não soluciona o problema; agrava-o. No trânsito, quando infringimos alguma regra, somos multados. Mas, quando a infração é cometida, sem ser percebida pelo agente de trânsito, a multa não é aplicada. Contudo, isso não diminui a gravidade do ato. Colocamos nossa vida e dos demais em risco quando indiscriminadamente desobedecemos normas. As multas aplicadas nas infrações cometidas contra nosso corpo ou alma, nem sempre são aplicadas imediatamente. Porém, isso não anula os efeitos que se acumulam ao longo dos anos. A tendência de ignorar os sinais gera prejuízos crescentes e por vezes irreversíveis.

“Às vezes os problemas são sinais de que chegou a hora do guerreiro iniciar uma nova batalha.” Roberto Shinyashiki

Decifrando os sinais

Existem sinais universais que, como o próprio nome já diz, servem como base para todos que deles se utilizam. As letras do alfabeto são um exemplo disso. Pois, embora alguns idiomas possuam um alfabeto próprio, eles são a minoria. Mas, mesmo quando utilizamos sinais universais, a composição deles pode não ser conhecida por todos. Ou seja, as mesmas letras podem formar palavras em idiomas que desconhecemos. De maneira idêntica, nosso próprio idioma possui palavras cujo significado ignoramos. A comunicação fica comprometida quando os sinais utilizados não são conhecidos por quem os recebe. Por isso, a leitura e interpretação correta de um sinal depende do conhecimento que emissor e receptor possuem da linguagem utilizada.

Por isso, não é incomum nossa alma e corpo emitirem sinais que não são codificados corretamente por nós. Por vezes nem quem está a nossa volta consegue nos ajudar a desvendar o significado do sinal que recebemos. Os profissionais da saúde física e mental esforçam-se no estudo de determinadas doenças classificadas como incuráveis e psicossomáticas. Contudo, a complexidade de nosso organismo e mente perpetua a tarefa. Pois, mesmo as descobertas mais recentes não esgotam o campo de pesquisa. Sempre há algo novo a ser considerado e avaliado.

Quando agregamos a isso o fato de que somos únicos, aumenta ainda mais a complexidade de decodificar a origem de algumas reações e dos sinais que recebemos. Além dos sinais emitidos por nosso corpo e mente, existem os sinais externos. Ou seja, as circunstâncias e as reações externas de quem convive conosco sinalizam importantes mensagens. Nossos cinco sentidos captam mensagens a todo instante. Somos influenciados pela temperatura do ambiente em que estamos, pela fome que sentimos ou pela noite mal dormida. Pois, cada um destes fatores isolados ou somados contribuem para que nossas reações sejam positivas ou negativas.

“Mas a gente não escuta só as palavras: a gente ouve também os sinais.” Martha Medeiros

O decodificador universal

Seria bom se o mercado tivesse desenvolvido um decodificador universal. No entanto, o produto não está à venda, pelo simples fato de que não pode ser fabricado. Ainda que tal produto não exista, podemos acessar o Criador que conhece o objeto criado. Nossa relação com Deus afeta nossa capacidade de decodificar alguns sinais que recebemos ou emitimos. Ou seja, potencializa nossa capacidade de fazer escolhas sábias que não infrinjam regras e não comprometam nossa integridade e dos demais. Por isso, cada um precisa transitar por um caminho único de busca e aprendizado. Sem dúvida alguma, não fomos criados por acaso, e não existe sinal sem significado.

Nosso olhar precisa ser treinado, assim como nossos ouvidos e cada um dos demais sentidos naturais. Mas, não fomos dotados apenas de sentidos naturais, temos sentidos espirituais. São eles os responsáveis por decodificarem a linguagem do espírito. Por isso, nossa relação com Deus é imperativa. Porque o mesmo arquiteto que projetou nosso corpo e mente, criou um lugar dentro de nós onde Ele pode habitar. É deste lugar que Ele nos ajuda a decodificar as mensagens que nosso corpo e nossa alma emitem. Inegavelmente estas são as mensagens mais difíceis de interpretar.

Mas, não são as únicas que nos afetam. Quando escolhemos dar espaço para que o relacionamento com nosso Criador se desenvolva, tanto maior será nossa capacidade de interpretar nossas reações e de quem nos cerca. O desenho que Ele estabeleceu, quando nos criou, previa este relacionamento. Portanto, qualquer um que tente desvendar os sinais que recebe e emite sozinho, tem mais dificuldade de vencer alguns desafios. O fato de reconhecermos nossa necessidade de interação com um Pai que nos ama e nos criou, alivia tensões. A decisão é individual e jamais será imposta. Mas, temos diante de nós a possibilidade de acessar uma fonte inesgotável de respostas.

“Se o escultor despreza a argila, terá de modelar o vento. Se o teu amor despreza os sinais do amor a pretexto de atingir a essência, o teu amor não passa de palavreado.” Antoine de Saint-Exupéry

Usufruindo do relacionamento com o Criador

Inegavelmente, a decisão de permitir que o Criador faça parte de nossa vida não isenta-nos de conflitos. Mas, certamente, abrevia e ameniza os impactos deles. Compreender o funcionamento de nossos mecanismos internos e externos através do olhar de quem nos criou é a chave mestra, que abre portas. Pois, nunca foi desejo de Deus que vivêssemos isolados de um relacionamento com Ele. Quando Jesus morreu na cruz, nos incluiu em uma família de filhos. A relação havia sido rompida, quando o primeiro homem criado escolheu a independência.

Por isso, a cruz foi necessária. Ela nos devolveu este acesso. Contudo, o acesso não acontece de forma automática. Temos que optar por ele, permitindo que Deus se comunique conosco. Contrariando algumas opiniões, cada um de nós possui capacidade de ouvir Deus e de se comunicar com Ele. A linguagem neste caso precisa ser aprendida. Contudo, ela é eficiente e preenche o vazio que somente Ele pode preencher. Mais importante que reconhecer a existência de um Criador é o fato de nos relacionarmos com Ele. O resultado desta escolha e posicionamento, é a aquisição de um olhar e de uma percepção que transcendem o mundo visível.

Alguns chamam isso de intuição. Mas, no fundo o ser humano só é completo quando codifica corretamente os sinais enviados pelo Criador. Nossa vida tem sentido e cada um nasceu para cumprir um propósito. Nenhum ser humano nascido está neste mundo por acaso. O verdadeiro sentido que damos a nossa existência só pode ser estabelecido quando esta parceria está funcionando. Por isso, conhecer os sinais emitidos e ser capaz de emiti-los é um desafio que nos acompanhará sempre. Temos que ter humildade de admitir que não conseguimos desvendá-los sozinhos.

“É o olhar característico do amor que torna a pessoa sensível e atenta para perceber os sinais e demonstrações de afeto, por mais pequenos que sejam ou que aparentemente assim o sejam, que fazem nascer no coração um fundamental sentido de reconhecimento em relação a vida, aos outros, a Deus.” Santo Agostinho