Demonstrar compaixão por circunstâncias alheias é diferente de sentir pena de alguém. A pena não cria vínculos, porque não gera atitude, é distante. Sentimos pena de pessoas que vivem situações desastrosas ou difíceis. Mas, é um sentimento desprovido de empatia, que anula a ação. Quando sentimos pena, mantemos uma distância segura e uma postura que desencadeia vergonha.
Ou seja, não nos identificamos suficientemente a ponto de nos envolver com a questão. A pena lesiona mais do que cura. Porque provoca uma comparação nociva e inevitável entre alguém que sofre com quem está bem. Inegavelmente este tipo de distanciamento atrapalha mais do que ajuda. No entanto, a compaixão é uma espécie de reconhecimento de nossa essência.
Por isso, sempre envolve empatia. Identificamos a luz e as trevas da humanidade e decidimos repartir bondade e amor com os que sofrem. Uma pessoa compassiva é também aquela que se trata com respeito e tolera momentos difíceis com mais honestidade. Porque, a não ser que tenhamos uma visão correta de nossa própria humanidade, não seremos capazes de demonstrar compaixão.
“A compaixão não é uma relação entre aquele que cura e o ferido: é uma relação entre iguais. A compaixão se torna real quando reconhecemos nossa humanidade compartilhada” Pema Chödrön
Escolhendo compaixão e não pena
O reconhecimento de nossa própria escuridão, ensina-nos a sentir compaixão pelas trevas alheias. A empatia é o elo de ligação fundamental entre a circunstância que vivenciamos e a do outro. É a habilidade emocional que extrai reações significativas e atenciosas. É também a capacidade de entender as vivências alheias, espelhando-se nelas. Ou seja, sabemos que poderíamos estar vivendo algo semelhante.
Por isso, temos facilidade de nos imaginar naquela situação. No entanto, precisamos diferenciar esta capacidade de compreender o que o outro sente, com sentir em seu lugar. Porque enquanto a empatia gera compaixão e nos conecta com a dor de outrem, a decisão de ocupar seu lugar, prejudica. Porque vivenciar algo como substituto, não é possível ou saudável. Pelo contrário agrega conflito à dor.
A empatia é o antídoto contra a vergonha, estando no centro dos vínculos que estabelecemos. Nosso coração é de essência nômade; isto é, facilmente as dores da vida o conduzem por rotas de fuga. Pois, nem sempre temos desenvolvida uma estrutura emocional, que nos possibilite lidar com a origem de alguns conflitos. Por isso, anestesiamos o desconforto com o distanciamento ou algum subterfúgio que possa minimizá-lo.
A sabedoria da escolha
Inegavelmente, quem elege a compaixão respeita as escolhas do outro, ainda que saiba que podem ser destrutivas. Porque, ser compassivo nem sempre é sinônimo de interferência ou intervenção. A compaixão é ativa, sem ser invasiva. Visto que, ouvir, entender, apoiar são formas de demonstrar interesse pelo outro. Diferenciar corretamente o momento de falar e ouvir é decisivo. Assim como de agir e esperar.
Portanto, a verdadeira compaixão respeita o processo do outro. Pois, crescemos quando lidamos com desafios. Já que, a precipitação ou a iniciativa errada, pode desencadear insegurança e potencializar ainda mais o medo de quem sofre. A empatia que sustenta a compaixão discerne as batalhas e se mostra solidária. Por isso, os vínculos que nascem destas circunstâncias, aproximam as pessoas. Pois, sentem-se ouvidas e valorizadas.
“Que você possa sempre fazer pelos outros e deixar que eles façam por você.” Bob Dylan
Escolhendo confiar
Quando aprendemos a dar e receber sem julgamentos, extraímos força do relacionamento. Contudo, qualquer posicionamento de superioridade, fundamentado em perfeccionismo é destrutivo. Já que, o perfeccionismo não é saudável e quando está controlando a relação, desencadeia vergonha. Demonstrar compaixão exigirá sempre disposição de ser vulnerável.
Não nos faltam oportunidades de demonstrar compaixão. No entanto, é nossa a escolha de interagir ou não com tais oportunidades. Porque, confiar que a compaixão que demonstramos por alguém será corretamente interpretada, envolve risco. Ou seja, assumimos o risco de transformar algo que valorizamos, vulnerável aos atos de outra pessoa. No entanto, a desconfiança nada mais é do que desclassificar uma pessoa. Ou, em outras palavras, considerá-la pouco merecedora ou incapacitada de valorizar o que para nós importa.
De maneira idêntica, ao demonstrarmos compaixão, nossos temores são confrontados e descobrimos mais a respeito de quem somos. Talvez nos arrependamos do fracasso da bondade que repartimos. No entanto, ainda que esse seja o caso, somos transformados na trajetória. E em última análise, este deve ser nosso alvo. Pois, mesmo que o outro não valorize ou reconheça nosso gesto, somos livres para prosseguir.
“Desespero é um estado de espírito. É a crença de que o amanhã será igual ao hoje.” Rob Bell
Evitando a pena
Portanto, não confiar é isolar-se. É deixar que o desespero e a desesperança ditem as regras do jogo. É, também, deixar que os fracassos e decepções nos paralisem. O otimista não é apenas quem não é pessimista. Mas aquele que, mesmo sabendo que corre riscos, arrisca. Perder a confiança é desistir da humanidade e de sua redenção.
É, também sinônimo de desistir de lutar, de sonhar e abandonar qualquer nível de expectativa. É ainda, escolher lidar apenas com o lado sombrio da natureza humana. Traímos nossos valores quando escolhemos não praticar a generosidade com o outro e conosco mesmo. O isolamento jamais será uma opção viável; pois potencializa as mágoas e ressentimentos.
“Esperança é um processo cognitivo de pensamento composto por: metas, caminhos e motivação. Esperança é aprendida, quando há limites, coerência e apoio.” C R Snyder