Lidar com o como, envolve a descoberta do porquê de algumas coisas. Já que, metas ousadas exigirão níveis de renúncia e maturidade que nos conduzirão para fora de nossa zona de conforto. Porque, crescer é sempre dolorido e desafiador, mas é o único caminho do avanço verdadeiro. Afinal, de que vale a conquista sem a mudança que ela gera? Pois, bem mais importante que ganhar o prêmio é preservar o aprendizado que nos conduziu ao pódio. Inegavelmente, a ousadia de sonhar é o primeiro passo na direção de qualquer conquista.
“Quem tem um porquê, enfrenta qualquer como.” Dr. Viktor Frankl
No entanto, os vencedores são os que escolhem lidar com a realidade do que os bloqueia e limita. Certamente, só temos capacidade de definir nosso porquê a partir de um olhar livre. O entorpecimento, contra o qual devemos lutar, tem sua origem na estratégia universal de viver “loucamente atarefado”. Mas, engana-se quem pensa que este subterfúgio é eficiente para impedir que a verdade de nossas vidas nos alcance. Os corajosos são os que param para fazer uma avaliação honesta e cuidadosa de como ocupam seu tempo. Ou seja, atividade não é sinônimo de avanço e nem sempre nos conduz para o nosso alvo.
Por isso, urgentemente, temos que descobrir o “porquê” de algumas coisas. Pois, somente quando isso acontece adquirimos ousadia para lidar com o processo. Precisamos de capacidade de nos reinventar e nunca é tarde para iniciar esta jornada. Alguns inimigos se levantam durante o como e o principal deles é a vergonha. Ela se cerca de companheiros poderosos que fortalecem sua capacidade de nos paralisar. Ao vestir a camisa de força formada pela desconfiança, crítica, crueldade e frieza, nos distanciamos de nossa meta.
“Os homens não desejam aquilo que fazem, mas os objetivos que os levam a fazer aquilo que fazem.” Platão
Vencendo a vergonha
A vergonha se instala sorrateiramente em nossa ótica distorcendo nosso valor. No entanto, nada pode nos fazer sentir mais ameaçados e mais incitados a atacar, envergonhando outros, do que ver alguém vivendo com ousadia. A ousadia produz um espelho incômodo que reflete nossos próprios medos de aparecer, criar e deixar que nos vejam. Portanto, quem estabelece um porquê bem fundamentado tem força para derrotar estes inimigos comuns. Pois, escolher não lidar com eles, aumenta seu poder de atuação. Por isso, a conversa franca sobre o que nos limita não oferece a metade do perigo produzido por nosso silêncio.
Ou seja, tudo que a vergonha precisa para sequestrar nossos sonhos reside em nossa apatia em confrontá-la. Portanto, quanto antes sua presença em nossas emoções for denunciada, tanto mais rápido ela terá que nos deixar. Já que um de seus principais trunfos é o anonimato. No momento que ela é exposta, perde força. Sentir vergonha é temer romper vínculos de qualquer natureza. Porque somos emocional e espiritualmente criados para o amor para os relacionamentos e para a aceitação, tememos estes confrontos. Por isso, toda vez que o avanço está associado à possibilidade de lidar com perdas, estacionamos.
Tememos que nossa decisão de fazer ou não fazer nos torne indignos de nos relacionar com outras pessoas. Ao eleger a vergonha como ferramenta de gerenciamento de nossas escolhas – fracassamos. Já que ela promove um ambiente onde desistimos de nos comprometer com algo em nome de proteção. Contudo, é inevitável que, ao iniciar a luta por nossos ideais e metas, esbarremos na vergonha. Uma vez superado este estágio temos mais chances de suavizar os desafios do como. Mas, apenas razões legítimas e porquês sólidos nos motivarão a enfrentar estes entraves.
“Muitos vivem apenas porque estão vivos. Vivem sem objetivos, sem metas, sem ideais e sem sonhos. Não sabem como lidar com suas fragilidades e lágrimas. Sabem lidar com os aplausos, mas desesperam-se diante das vaias.” Augusto Cury
O como, precisa de vínculos saudáveis
Os vencedores são os que não desistem, perseverando na tarefa de eliminar o peso extra que os impede de correr. Sem dúvida a vergonha do fracasso, das falhas e da opinião alheia, reduz em muito nossas chances de vitória. Pois, nesta corrida só leva o prêmio quem está com os olhos fixos na linha de chegada, tendo pernas livres, capacitadas a correr sem embaraços. Outro aspecto importante é ter vínculos saudáveis. Eles são construídos com pessoas que conquistaram o direito de ouvir nosso interior. Elas são responsáveis por gerar uma espécie de energia, experimentada quando as pessoas sentem-se vistas, ouvidas e valorizadas. Portanto, criam-se a partir destes vínculos, ambientes onde a troca que ocorre entre dar e receber acontece sem julgamento.
O verdadeiro vínculo nasce fundamentado na aceitação. Já que temos desejo inato de ser parte de alguma coisa maior do que nós. O fato desse anseio ser tão essencial nos leva a tentar conquistá-lo, buscando um encaixe. No entanto, a busca por aprovação nada mais é do que um substituto fajuto da verdadeira aceitação. Porque a verdadeira aceitação acontece somente quando ousamos apresentar nosso eu autêntico e imperfeito para o mundo. Isto é, nosso senso de aceitação nunca pode ser maior do que nosso nível de auto aceitação. Do contrário a pressão do olhar alheio pode nos destruir. Há os que optam pelo isolamento, mas a dor desta decisão é insuportável, crescendo a necessidade de anestesiá-la.
Pois, sozinhos não somos capazes de grandes conquistas, porque parte do que desejamos conquistar envolve a interação e a troca. Um vínculo saudável pode, por isso, determinar o sucesso ou o fracasso de nosso planejamento. Inclusive no estabelecimento da meta, precisamos do olhar de quem não possui os mesmos pontos cegos e vícios que temos. Já que, nenhum de nós enxerga o todo. Quando isso acontece, nosso olhar é alargado e passamos a contar com a contribuição dos que nos acompanham na jornada. A vida em comunidade é desafiadora, mas é através dela que nosso como é ajustado. Portanto, nosso porquê deve contemplar a conquista de relacionamentos sólidos e verdadeiros. Ou seja, eles são responsáveis por garantir que o bálsamo que ameniza os momentos desafiadores da jornada seja acessado.
“A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro.” Platão
“A felicidade de um amigo deleita-nos. Enriquece-nos. Não nos tira nada. Caso a amizade sofra com isso, é porque não existe.” Jean Cocteau
Abraçando nosso porquê
Temos que ter coragem de abraçar nossa natureza imperfeita. Quando eliminamos a vergonha e temos vínculos sólidos, somos candidatos a conquistar os objetivos com os quais sonhamos. Por isso, não tememos exibir sentimentos e emoções não classificáveis. Já que nem sempre as coisas, necessariamente, precisam fazer sentido. Saber lidar com o desconforto das emoções difíceis é um grande trunfo que temos a nosso favor. Pois, não basta ser brilhante e competente se nos falta equilíbrio emocional para finalizar o que começamos. Por isso, nosso porquê pode variar e se adaptar ao longo do caminho, mas ele precisa existir. Certamente é ele o responsável por estabilizar os revezes do como.
Portanto, o como será amenizado quando pessoas certas estiverem ao nosso lado. Certamente, elas não são pessoas perfeitas, contudo, sentam-se lado a lado conosco à mesa. Elas não nos julgam ou avaliam a partir de um lugar de superioridade. São elas também, que ajudam-nos a encontrar o porquê, enquanto lidamos com o como. Obviamente não podemos responsabilizar outros pelo sucesso ou fracasso que experimentamos. No entanto, uma identidade bem definida, livre da vergonha e a existência de relacionamentos sólidos, pavimentam a estrada que nos conduz para o alvo. Indiscutivelmente, vamos mais longe e mais rápido, quando estes dois fatores da equação estão ajustados.
“Quanto maior for a crença em seus objetivos, mais depressa você os conquistará.” Maxwell Maltz