Nossas emoções existem e nenhuma delas é negativa na essência. Elas são verdadeiros termômetros que medem o estado de nossa alma. Sentir medo, insegurança, inveja, raiva é sinal de que algo está desequilibrado. Mas, mais danoso que asfixiar estes sentimentos é ignorá-los. Obviamente, ninguém em sã consciência, escolhe expressar emoções negativas. Contudo, elas são reais e manifestam-se em momentos diversos. Desalojar mágoas e ressentimentos não é uma tarefa fácil. Decidir lidar com a origem destas emoções exigirá coragem e determinação.
Toda busca por superação esbarra em fragilidades. Pois, atingir objetivos maiores e metas ousadas envolve lidar com o que nos limita de forma honesta. Fatalmente a dor que se instala na origem de cada emoção virá para superfície. Por isso, instintivamente buscamos aplacá-la ou ignorá-la, sempre que possível. Ocorre, no entanto, que por mais inofensiva que pareça ser esta tentativa ela nos bloqueia. Pois, nascemos com a necessidade de expressar o que sentimos. Estrangular estes sentimentos, tanto os considerados negativos como os positivos, danifica nossa psiqué.
Muitos de nós fomos ensinados, pelas reações de nossos pais e líderes, a mascarar o que sentimos. Esta atitude é, de certa forma, um comportamento adquirido de autoproteção. Especialmente em famílias mais desestruturadas as emoções são comumente ignoradas e reprimidas. Além disso, pessoas que sofrem desapontamentos sozinhas tendem a criar verdadeiras fortalezas dentro de si. Ao contrário do que pensam, estas muralhas não protegem-nas de fracassos ou de feridas. Inegavelmente, escolher este comportamento isola-nos dos outros e distorce quem somos.
“Dor é inevitável. Miséria é opcional.” Autor desconhecido
Emoções implodem no silêncio
Nosso silêncio gera implosão. Pois, é de dentro para fora que nos destruímos. Os conflitos internos são bem mais destrutivos e poderosos do que qualquer dificuldade externa. Quebrar o silêncio e verbalizar nossas emoções é o início de nossa cura. Certamente só faremos isso quando sentirmos que estamos em terreno sadio. Ou seja, ninguém que tenha tendência a sufocar o que sente, dará acesso facilmente ao que guarda dentro de si. Pois, quanto maior for a confiança conquistada pelo relacionamento, tanto maior será nossa capacidade de permitir que vejam quem somos de fato.
Somos seres relacionais e o ser humano foi criado para conviver com seus semelhantes. Por isso, as tentativas de isolamento sempre fracassam, já que parte do que nos completa está no outro. Por mais que as relações familiares sejam conflituosas, lidar com elas é mais saudável do que escolher ignorá-las. O isolamento físico não soluciona as desavenças ou remove cicatrizes. De maneira idêntica, não é capaz de minimizar as lacunas e feridas que se instalaram. Portanto, qualquer esforço no sentido de maquiar ou reprimir de forma mecânica estas emoções será ineficiente. Porque nossas escolhas e a maneira como lidamos com nossas circunstâncias denunciam a existência da batalha interna.
Por isso, tanto o extremo de reprimir o que sentimos, como o de expressar indiscriminadamente é desaconselhado. O oposto de conter é explodir de forma constante e descontrolada. Certamente, tanto a pessoa que não exerce autocontrole em relação ao que sente, como a que abafa suas emoções – sofre. O equilíbrio entre estes dois extremos é reconhecer a existência da emoção e buscar sua origem. Porque cada emoção está atrelada a uma fonte legítima que a alimenta. Pode ser um trauma, uma ferida, uma distorção ou qualquer outra experiência que danifica nossa alma. Mesmo as emoções consideradas positivas como amor, carinho e alegria podem ser negligenciadas e debeladas ocasionalmente.
Quando a casa cai
“Minha casa incendiou. Agora nada mais oculta a visão da lua.” Mizuta Masahide
Deixar a casa cair pode ser a opção mais saudável em algumas ocasiões. Ou seja, o esforço que empreendemos para manter a casa de pé, nem sempre é adequado. Talvez o mais apropriado seja lidar com a realidade de sua destruição. Reconstruir não é tão difícil quanto permanecer fazendo remendos sobre um alicerce frágil. Ter coragem de zerar algumas etapas pode representar um recomeço. Pois, nosso ego tende a trapacear, oferecendo soluções que escondam sua real condição. Por isso, evitar a verdade e a vulnerabilidade são estratégias que fortalecem a trapaça do ego.
Os capangas do ego são a raiva, culpa e a negação. Ele gosta de culpar, colocar defeitos, inventar desculpas, se vingar e perder a cabeça. Já que, cada uma destas reações são variações de formas de autoproteção. Por isso, quando a raiva, culpa e a negação empurram a mágoa, decepção ou dor para longe, a trapaça é legitimada. Porque, estas emoções possuem pontas afiadas como se fossem espinhos. Portanto, quando nos espetam causam desconforto ou dor. Por isso, o ego foge deste incômodo de forma instintiva, não sendo, portanto, um conselheiro confiável.
Combater de forma consciente os apelos de proteção do ego é determinante para nossa liberdade. Já que, qualquer nível de prisão interna distorce nossa personalidade e bloqueia nossa identidade. Por isso, sentir raiva ou inveja deve sinalizar sempre a existência de algum gatilho interno que devemos analisar. Encarar o desafio de codificar corretamente a origem do sentimento exigirá vulnerabilidade, que é a essência da coragem. Porque, pessoas bem resolvidas são aquelas que optam por não ignorar o que sentem. No entanto, o reconhecimento de uma emoção, implica em assumir responsabilidade de equilibrá-la.
Lidando com as emoções
“Você pode não controlar tudo o que lhe acontece. Mas pode tomar a decisão de não se deixar reduzir pelos acontecimentos.” Maya Angelou
Muitas pessoas são exemplos vivos de superação. Uma destas pessoas, certamente, é Maya Angelou. Sua biografia é recheada de momentos que tinham potencial para destruí-la. No entanto, ela decidiu resignificá-los, tendo, primeiramente, ousadia de reconhecê-los. Pessoas com trajetórias bem menos desafiadoras sucumbem. Ela, no entanto, é uma das vozes e exemplos que se levantam para provar que temos capacidade de superação. Ela não remendou seu passado e nem escondeu-se dele.
Por isso, quando nos levantamos de lugares de destruição descobrimos a mesma capacidade que ela experimentou. A escolha será individual e a tarefa não pode ser terceirizada, pois, ninguém pode ser responsabilizado pelo que nos acontece. Eventualmente a vida oferta pratos menos saborosos e atraentes. Mas, nós decidimos do que vamos nos alimentar. Não podemos evitar circunstâncias e não é saudável ignorar as emoções.
Portanto, ao nos posicionarmos de forma correta diante das dificuldades, temos chance de aprender lições valiosas. A distância que existe entre uma pessoa bem sucedida de uma fracassada é diretamente proporcional ao seu desejo de lidar com o que sente. A negação é o pior dos venenos que podemos ingerir. Emoções são legítimas e não devemos suprimi-las. Cada um de nós é chamado a equilibrar o que sente, lidando honestamente com sua origem.
Reconhecendo a origem
Nada do que sentimos brota da superfície por acaso. Por isso, quando a raiz é saudável, não temos do que nos envergonhar. Ou seja, a identificação da raiz nos permite remover o que alimenta as emoções negativas e adubar o que queremos que cresça. Cada ser humano escreve sua história de forma menos ou mais emocionante. A razão precisa ter espaço, mas as emoções não devem ser negligenciadas.
Existe capacidade dentro de cada um de nós de experimentar o equilíbrio entre a razão e a emoção. Pois, tudo em excesso oferece algum risco. Portanto, ao sentirmos que as emoções afloram, pedindo espaço para se manifestar, temos que ser sábios. Silenciá-las não pode ser uma opção, assim como expressá-las de forma descontrolada não é adequado. A saúde de nossa alma depende deste equilíbrio e nunca é tarde para iniciar esta jornada e é sempre cedo para desistir de nós mesmos.