quebra-cabeças da vida

Nem todos gostam de quebra-cabeças. Pois, são jogos que exigem paciência e que, em geral, nos desafiam. Por vezes, representam um grande enigma e, certamente, teremos mais facilidade de montá-los quando conhecemos o desenho final. Porque, qualquer um que tente montar algo que desconhece, fará um número maior de tentativas e corre o risco de desistir no meio do processo. Nossa existência poderia muito bem ser comparada a um gigantesco quebra-cabeças que somos desafiados a montar. Há os que se realizam ao montá-los, sentindo-se estimulados à decifrá-los.

Pois, existem pessoas que divertem-se enquanto encaixam as peças e contemplam a imagem sendo formada. Mas, mesmo para pessoas que abordam a vida como uma grande aventura, existem momentos desafiadores. Inegavelmente existem “peças” que podem ter sido encaixadas no lugar errado, ou que foram perdidas e precisam ser resgatadas. Na vida de todos nós existem vales, que são as formações entre duas montanhas. Portanto, os picos mais altos de nossas conquistas, são precedidos ou antecedidos por vales. Porque ninguém permanece de forma definitiva em posição de destaque. Todos experimentamos, em alguma medida, fracassos e decepções.

No entanto, montar este quebra-cabeças é extremamente desafiador para os mais resistentes, que não admitem a ideia de que devem ao menos tentar. Para estes o desenho talvez esteja indefinido demais, ou quem sabe falta-lhes determinação ou paciência. Seja lá como for, o jogo inclui muitas peças e exigirá interação. A ausência de algumas peças, que não estão conosco, podem também aumentar a dificuldade de se chegar ao final. Por isso, é indicado que não se deixe de montar o quebra-cabeças, pela ausência de alguma peça. Pois, definitivamente, este é um jogo que iniciamos sem ter todas as peças. Algumas delas existiam previamente e outras são adquiridas ou resgatadas ao longo da jornada.

“A vida é como um quebra-cabeça. O importante não é ter todas as peças, é coloca-las no lugar certo.” Jô Soares

Buscando as peças que faltam

É importante entender que nenhum de nós começa a montagem de seu quebra-cabeças do zero. Isto é, todos herdamos algumas peças que já foram colocadas por nossos antepassados. Mesmo os que não são experts na arte de montar quebra-cabeças, sabem que o ideal é iniciar a montagem pelos cantos. Porque existe uma espécie de moldura que define o contorno da figura que estamos formando. Inegavelmente esta é uma referência importante, e por vezes decisiva que não devemos ignorar. Os que simplesmente encaixam as peças de maneira aleatória, desconsiderando, portanto, o que já existia, potencializam as chances de fracasso. Já que, o caminho do sucesso não é desconstruir simplesmente. 

Portanto, precisamos de alvos bem definidos e doses importantes de honra devem ser somadas nesta equação. Honrar significa reconhecer as heranças positivas e se perceber como receptor de dádivas não conquistadas. Quando voluntariamente optamos por ignorar o histórico das gerações que nos antecederam, perdemos capacidade de enxergar o todo. Consequentemente, esta falta de perspectiva da imagem maior, subtrai nossa aptidão de discernir nosso lugar no desenho. No entanto, isto não é sinônimo de conformismo ou de saudosismo barato. É antes a capacidade de se relacionar corretamente com os erros e acertos existentes, corrigindo-os ou reforçando-os sempre que necessário.

Obviamente a parte do desenho que nos cabe montar, com nossa vida e escolhas, contribuirá significativamente para formar a imagem da qual somos parte. No entanto, é importante entender que nem sempre visualizaremos a gravura completa em nossa geração. Nossa vida tem um encaixe e pode ser a peça decisiva que desencadeará o progresso. Pois, tão importante quanto enxergar o todo, é o entendimento de que nossa responsabilidade individual não pode ser negligenciada. Ainda que alguns de nós tenhamos que remover algumas peças que foram colocadas no lugar errado, como parte de nossa missão, isto jamais será sinônimo de anular nossa identidade.

“Um quebra-cabeças não é montado com peças iguais. Assim somos, diferentes uns dos outros e ao mesmo tempo formadores uns dos outros.” Rosicleide David

Assumindo nosso lugar

Quando se pensa na existência humana como um imenso quebra-cabeça, e cada um de nós como parte de uma engrenagem gigantesca, chega ser assustador. Certamente, esta é a ótica de quem contempla o desenho de cima. Na verdade, apenas o Criador de todas as coisas possui esta perspectiva. No entanto, criou-nos com a capacidade de influenciar a formação deste grande desenho. Concedeu-nos, também, o privilégio de interagir com Ele em busca de clareza.

Por isso, esta talvez seja a chave mais importante para decifrarmos o enigma da vida. Isto é, nossa abordagem será pouco eficiente se insistirmos em viver isolados de quem fez o desenho. Portanto, cedo ou tarde se conclui que não fomos projetados para viver desconectados do Criador. Pois, assim como as peças de um quebra-cabeças, quando encaixadas de maneira equivocada, dificultam o entendimento do desenho; nossa vida deslocada inviabiliza a continuidade.

Quer gostemos ou não, somos parte de um todo. Não nascemos para viver isolados e não nos foi dada a opção de prosperar sem lidar com os encaixes que nos circundam. Portanto, é indicado que cessem tentativas de encaixe em posições para as quais não fomos desenhados. O formato de nossa vida só cabe no lugar específico para o qual foi projetada. Os intentos fracassados danificam nosso formato e distorcem o desenho original. A boa notícia é que, ao interagirmos com o “Criador do quebra-cabeça”, temos chance de ser refeitos.

“Sou peça de um quebra cabeça que ainda não foi feito…nem visto…apenas sonhado.” Adilson Salles Bueno

Entendendo o desenho

Cada um de nós, quando encaixado corretamente no lugar para o qual foi projetado, será útil. Quando isto acontece cessa a tensão e o desgaste e a fluidez é parte integrante do que realizamos. Seja na vida pessoal, profissional ou em qualquer aspecto de nossa existência, nascemos com um formato único e insubstituível. Este entendimento, por si só, descarta a necessidade de encaixes provisórios e, portanto, frustrados. Por isso, o menor indício de desconforto ou inadequação deveria sugerir análise e mudança de estratégia. Se estivermos no lugar certo, certamente floresceremos e embelezaremos nosso entorno.

Nenhuma dose de descontentamento desprovido de ação nos remove de uma posição equivocada. Todo desconforto ou inquietação deveria ser percebido como um convite à reciclagem. Já que, devemos assumir nosso protagonismo em nossa história. Certamente não é do outro a responsabilidade de promover nosso ajuste. Nem podemos responsabilizar quem quer que seja pelas escolhas que fazemos. Fomos projetados com perfeição e temos um encaixe cirúrgico e estratégico no grande quebra-cabeças da vida. Os centímetros que nos faltam ou sobram e que, por isso, dificultam o encaixe, podem e devem ser corrigidos.

Quando o desenho estiver completamente formado, entenderemos algumas partes do processo de forma plena. Nesta vida nossa ótica é limitada e parcial. O mais importante é saber que somos parte de uma grande engrenagem, que não iniciou e nem termina com nossa passagem pela terra. No entanto, nossa participação é esperada e tem poder de afetar nossa geração. Somente Deus poderia juntar pó com Sua essência divina e formar o homem. Somos esta mistura de fragilidade com eternidade que tem potencial para influenciar ou não, os que nos rodeiam.

“O quebra-cabeças de Deus não tem falhas. Somos nós que insistimos em colocar as peças no lugar errado.” Desconhecido