economia praticar

A palavra economia está muito em alta em nossos dias. Somos ensinados e incentivados a economizar energia e recursos naturais de nosso planeta. Nunca se discutiu tanto a sustentabilidade e se lutou tanto por preservação. Além disso, é recomendado que tenhamos regras de economia de nossas finanças, nunca gastando além do que ganhamos. Nosso país lida com crises econômicas por décadas e busca meios de estabilizar as contas públicas. Mas, quando objetivamos praticar economia saudável, devemos atentar para o risco de resvalar para uma mentalidade de escassez permanente. Que nada mais é do que a neurose que nos leva a economizar, motivados pelo temor do futuro.

Equilibrar gastos para ter uma vida coerente com nossa real condição é imperativo, quando se pretende avançar. Contudo, projetar todas as conquistas para o futuro nos leva a anular o presente. Tanto os pródigos como os sovinas estão em extremos dos quais devemos fugir. O esbanjador ou pródigo, é aquele que gasta o que não tem e excede sempre os limites da coerência, endividando-se. Os sovinas são os que não usufruem dos recursos que possuem e jamais repartem com quem tem menos. As duas posturas revelam óticas equivocadas da vida e de como devemos administrar os recursos que temos. Quando se trata de finanças a equação é relativamente simples, no entanto, esta visão das coisas transfere-se facilmente e contamina as demais áreas de nossa vida.

Porque, em geral, a maneira como administramos nossos recursos financeiros e bens, revela muito mais a respeito de quem somos do que imaginamos. Pois, pessoas que não economizam e não pensam no amanhã, são pessoas que têm muita dificuldade de planejar o que quer que seja. Eles também são avessos às regras e sentem necessidade de estar constantemente buscando satisfação externa, para necessidades internas. Já os sovinas e poupadores excessivos são medrosos e egoístas, temem o risco em qualquer medida. Pensam erroneamente que podem minimizar o impacto dos imprevistos e esquecem de medir o desperdício diário de energia que esta prevenção lhes impõem.

“As pessoas dividem-se entre aquelas que poupam como se vivessem para sempre e aquelas que gastam como se fossem morrer amanhã.” Aristóteles

A economia correta

O correto seria canalizar nossa energia e foco para coisas que realmente importam, otimizando tempo e dedicando-se em menor medida em questões secundárias. O estabelecimento de prioridades é imprescindível. Certamente, separar o que é importante do que é urgente, determina o quão longe conseguiremos chegar. Os alvos e metas precisam ser traçados, no entanto, temos que, também, aproveitar o trajetória. Quando buscamos pura e simplesmente atingir o alvo, desperdiçando a possibilidade de apreciar a paisagem do trajeto, e neste caso, economizamos do jeito errado. Isto é, corremos o risco de chegar ao destino sem lembranças valiosas do que nos levou até lá.

Sempre será errado economizar tempo de estar com pessoas. Elas passam por nossa vida de maneira única. Por isso, quase sempre não temos chance de resgatar o tempo  que utilizamos para outras coisas, em detrimento do tempo que poderíamos ter usado para estar com elas. Portanto, temos que administrar com sabedoria nosso tempo, garantindo boas doses de lazer na companhia de pessoas que amamos. Seja na escola, no trabalho, na vizinhança, no ônibus, onde quer que estejamos em contato com pessoas, temos a chance de escolher o que será prioridade. Podemos focar em chegar a tempo para uma reunião importante, ou ajudar um idoso desconhecido a atravessar uma rua. 

A vida nos oferece chances de viver o presente com intensidade. Planejar e organizar tarefas, bem como perseguir metas e sonhar alto é sempre indicado. Mas, quando este planejamento engessa nossa capacidade de lidar com imprevistos e nos transforma em robôs, passamos pela vida de forma automática. Nunca será indicado economizar abraços e sorrisos, muito menos declarações de afeto, que revelam o quanto o outro é importante para nós. Por mais que para alguns isto seja desafiador, toda economia destas oportunidades nos conduz a posições de isolamento. A interação com nosso semelhante é uma das preciosidades da vida que não podemos desperdiçar.

“Deve-se doar com a alma livre, simples, apenas por amor, espontaneamente!” Martinho Lutero

Eliminando a escassez

A mentalidade de escassez é aquela que nos atrela a posturas consumistas ou de economia exageradas. O medo de que um dia falte nos escraviza, assim como o consumo desenfreado nos contamina com doses excessivas de superficialidade. É melhor ter menos e ter paz, do que a abundância atrelada à conflitos e disputas. Pessoas que estão sempre correndo atrás de metas maiores, e que não usufruem do que já possuem são infelizes. Assim como desprezar oportunidades preciosas, por despreparo, indicam imaturidade. Existe uma tendência em cada um de nós, e ela rege nossas principais escolhas. No entanto, isto não significa dizer que não possamos oscilar eventualmente entre dois extremos.

Por isso, convém atacar o medo da escassez veementemente. Pois, ninguém tem tanto a ponto de possuir segurança irrestrita. De maneira idêntica, ninguém tem tão pouco que não possa repartir algo. É comum ouvir-se de pessoas que dedicam-se a qualquer forma de voluntariado ou envolvem-se com atividades de cunho social, que existe sempre uma troca. Isto é, o doador sempre sai com alguma parcela de algo que não possuía antes de se doar. Porque o receptor sempre interage em alguma medida e compartilha reações e sentimentos intangíveis que também nos completam.

“Amar grande é gastar reservas e ainda assim ter coragem pra dar o que não se tem.” Tati Bernardi

Quando ousamos abordar a vida e as oportunidades desta forma, percebemos a riqueza de recursos que nos rodeia. A simples troca de ideias, quando nos abrimos para ouvir opiniões diferentes das nossas, nos enriquece. Temos que aprender a economizar rigidez e desperdiçar aceitação. Diariamente temos chance de desperdiçar oportunidades valiosas e economizar tempo e energia em relação a fatos menos importantes. Escolhemos se o congestionamento vai nos roubar o bom humor ou se vamos focar em algo que nos devolva a sensatez. Assim como, é nossa a escolha de dar ou não vazão para os sonhos secretos que temos. Podemos persegui-los ou abandoná-los.

O equilíbrio da balança

Como não existe uma regra que se assemelhe a uma receita de bolo, não temos a resposta absoluta para todo imprevisto. Isto é o que torna a vida uma grande aventura. Qualquer previsibilidade deste tipo extrairia de nós a possibilidade de novas descobertas e nos transformaria em robôs. Por isso, os que oferecem soluções simplistas e padronizadas se equivocam. Já que, a grande variedade de fatores que compõem nossa psique e nossa personalidade nos transformam em seres únicos. Assim também deve ser nossa abordagem da vida. Devemos imprimir nossa impressão digital em tudo que está ao nosso alcance. As marcas que deixamos podem ser boas ou ruins e algumas delas podem contribuir ou não para o avanço de nosso semelhante.

Engana-se quem pensa que existe um lugar seguro de isenção, onde podemos fazer escolhas que nos afetem exclusivamente. Quando nos omitimos ou negligenciamos nosso papel, também estamos escolhendo. Não temos opção de neutralidade, porque vivemos em uma sociedade em que a parcela de cada um soma e a ausência subtrai. A economia deve ser sempre de fatores negativos e de pensamentos pessimistas. Em contrapartida, ganha sempre quem esbanja otimismo e se posiciona de maneira equilibrada em relação a seu presente. O futuro não nos pertence de fato, por isso, nenhuma economia financeira ou planejamento garante um futuro promissor. Mas, o presente está aqui, ele nos convida a desperdiçar tempo com momentos e escolhas que nos transformem em pessoas melhores.

Talvez este seja o grande desafio, escolher coerentemente nossas batalhas. Escolher com o que, com quem e quando vamos usar os recursos que temos. Nosso tempo é um recurso tão ou mais valioso do que nossas finanças. O mau uso dele pode nos custar tudo. Não precisamos ser economistas para aprender a respeito de economia. As maiores lições são aprendidas através de circunstâncias cotidianas e com pessoas que estão ao nosso lado. Decidir o que e quando economizar nossos recursos em última análise é escolher se e quando vamos nos gastar. De uma maneira ou outra estamos gastando e doando quem somos diariamente. Podemos nos economizar, mas corremos o risco de passar pela vida sem deixar nossa marca.

“Se há algo para mudar que seja dentro da gente, onde não é preciso fazer reserva nem gastar uma nota para virar uma pessoa melhor.” Martha Medeiros