Definir amor e o que significa amar não é tarefa simples. Alguns expressam amor através de gestos práticos, como por exemplo: ajudar nas tarefas da casa. Outros, no entanto, não valorizam este tipo de atitude e sentem-se amados quando são alvos de alguma ação inesperada, do tipo que os arrebata de nossa rotina. Talvez um pouco das duas coisas ou nenhuma delas, mas o fato é que nascemos para ser amados e para amar. E o amor precisa se expressar de forma palpável, visível. Já que, amar pressupõe ação.
Se usássemos a analogia de um equipamento eletrônico, poderíamos dizer que os componentes do ser humano foram desenhados para funcionar através do amor. Amor é sinônimo de aceitação, de valor, de significado. Por isso, a ausência do amor, inevitavelmente gera sofrimento. Por isso, a maioria das pessoas instintivamente busca respostas para esta lacuna, e por vezes se apoia em recursos errados. Pois, toda solução externa que garanta conforto e gere valor não tem potencial de mudar, de fato, a maneira como nos sentimos.
Se a humanidade pudesse ser dividida em dois grandes grupos, eles seriam o das pessoas que possuem senso profundo de valor e aceitação e das que lutam para conquistar isso. Nesta hipótese, possivelmente apenas uma variável separaria estes dois grupos. Os que amam e vivenciam a aceitação, são os que consideram-se dignos disso, o outro grupo ignora este fato. Os que desconhecem esta realidade perseguem o amor de forma equivocada. Por isso, o primeiro passo que nos introduz no caminho correto é reconhecer que merecemos o amor.
“É um amor pobre aquele que se pode medir.” William Shakespeare
Reconhecendo o valor do amor
O simples reconhecimento de que precisamos e merecemos ser amados, não torna a vida melhor ou mais fácil, e não nos imuniza de traumas, falências ou separações. Mas, estas fatalidades nos afetam em medida diferente. Porque, sempre que analisamos as circunstâncias a partir da ótica correta elas assumem proporções adequadas. Isto é, nenhum fator desagradável externo nos derrota quando temos consciência de nossa capacidade de nos reerguer e reinventar.
Quando nosso valor está alicerçado na base sólida do amor, isto é, quando não se apoia em nada passageiro ou transitório, adquirimos mais resistência para lidar com os desafios. Isto também aniquila a mentalidade de que estamos incompletos, ou de que algo que não temos pode ser a chave do sucesso que perseguimos. Porém, isso não significa que estaremos acomodados ou que sejamos alienados. Pelo contrário, ao conquistarmos coisas a partir deste lugar, tais conquistas não definirão quem somos.
Por isso, se eventualmente as perdermos, nossa estrutura não sofre rachaduras. Quando Deus criou o homem, partiu do princípio que Ele seria a fonte de amor e aceitação capaz de nos conduzir. Infelizmente o homem rompeu esta conexão, e, por isso, anda buscando respostas em outras fontes. Porém, as incertezas se dissipam, e não tememos a exposição e os riscos emocionais, quando somos definidos pelo amor que Deus tem por nós. Esta é a única Fonte legítima e confiável de amor.
“Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele.” 1 João 4:16
Derrubando os muros
A insegurança em geral nos atrela ao medo. Quando tememos, temos mais dificuldade de arriscar, pensamos erroneamente que existem meios seguros de nos proteger. Por isso, a busca instintiva do amor, quando frustrada, nos leva a edificar muros. São estes mesmos muros que levantamos para nossa proteção, que nos escravizam e isolam. Portanto, longe de ser um escudo eficaz, a ilusão deste tipo de atitude desencoraja a reação que teria fornecido a proteção genuína que perseguimos.
Por isso, a simples escolha da exposição voluntária nos aproxima bem mais de quem somos de fato, do que a fuga. Não se trata da exposição pela exposição, já que isso seria um suicídio emocional. Mas, da consciência de nossa identidade e valor que nos capacita a lidar com a possibilidade de não ser aceito ou totalmente compreendido. Estes riscos são reais e precisam ser considerados. Porém, é nossa a tarefa de separar quem somos, da crítica que recebemos.
Pois, amar envolve correr riscos. Qualquer um que ama sabe disso. Não existe vacina que nos imunize, nem atalhos que nos poupem deste componente do percurso. Todos os que amam já foram feridos e já feriram. Existem cicatrizes que denunciam alguns desses momentos mais doloridos. As marcas que o amor produz nos transformam. Elas também possuem certa beleza, que só é discernida pelos que amam.
“A medida do amor é amar sem medida.” Santo Agostinho
Aprendendo sobre o amor
Inegavelmente uma pessoa que não ama a si mesma não tem o que oferecer para o outro. Já que não podemos repartir ou doar algo que não temos. A ausência de amor próprio nos faz exigir do outro atitudes que jamais nos suprirão de fato. Porque, nada externo, nem mesmo gestos genuínos e autênticos de amor, são eficientes para destruir esta mentira. Se perceber como alguém sem importância, é não ser capaz de decifrar sua essência.
Por isso, nestes casos, a ótica do outro, não é suficiente para nos remover desta posição. Só nós podemos decidir quando sairemos deste lugar. Certamente existem fatores que podem contribuir tanto para reduzir esta sensação de ausência de significado, como para potencializar este pensamento. No entanto, nem mesmo uma justificativa plausível, constitui álibi para este tipo de posicionamento. É imprescindível descobrir que perdemos tempo quando permitimos que outros nos definam.
Inegavelmente, é perigoso vincular quem somos às reações de outros ou a qualquer coisa que façamos ou tenhamos. Pois, nada disso é inabalável. Nossa auto-estima é imediatamente sequestrada quando vinculamos nosso valor a algo externo ou à opinião de quem quer que seja. Podemos gostar da sensação do aplauso e reconhecimento nos momentos de sucesso. Mas, na presença dos fracassos, que são inevitáveis, naufragamos com eles.
“Quem se apaixona por si mesmo não tem rivais.” Benjamin Franklin
Sendo capazes de amar
Portanto, ao autorizarmos que nos definam, isto é, que nosso valor esteja vinculado ao que fazemos, o fracasso torna-se nossa sepultura. No entanto, quando este componente é excluído da equação, temos mais facilidade de arriscar. Consequentemente construímos uma identidade mais sólida. De maneira idêntica, ao recebermos amor a partir de uma ótica ajustada e equilibrada, somos capazes de dar amor.
Porque, a máxima de que é dando que se recebe, se aplica muito bem neste cenário. Já que precisamos nos amar e repartir este amor com outros, para que ele se multiplique em nós. Dar amor de forma incondicional e livre alimenta nossa fonte de amor. Isto é, a lei do amor é regida pela necessidade de ser alvo e fonte de amor simultaneamente.
Pode ser confuso para mente, mas não é para o coração. Os que amam não têm dificuldade de decifrar este enigma. Já os que não amam, não entenderão por mais eloquente que seja a linguagem usada que pretenda explicar. Precisamos do outro, para repartir o que temos e para receber o que nos falta. No entanto, a única fonte de amor infalível e inesgotável é o Criador. Ele nos criou com capacidade de amar e de receber amor. Por isso, só somos completos quando recebemos e repartimos amor.
“Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.” 1 João 4:8