Ser gaúcho é mais do que ter nascido no estado do Rio Grande do Sul. É sinônimo de uma série coisas, mas especialmente nos vincula a um estado com características únicas e com tradições muito fortes. Ou seja, a posição geográfica, o clima, a colonização e uma série de fatores influenciam os que nascem nesta região. Não por acaso, somos influenciados também por quem faz fronteira conosco – Uruguai, Argentina e o estado de Santa Catarina. O gaúcho é uma mescla de influências que recebeu da colonização italiana, alemã e até russa. Meus avós maternos vieram da Ucrânia e minha mãe foi a primeira filha nascida no Brasil.
Pasmem, mas a comunidade de ucranianos e descendentes de russos é bem grande nesta região também. A língua oficial obviamente é o português, mas não é raro encontrar uma mistura de sotaques influenciados por esta miscigenação. Particularmente amo esta diversidade e aprendi a apreciar a beleza das diferenças e o quanto elas se completam. Engana-se quem pensa que existe apenas um jeito de se fazer algo e mais ainda quem considera que o outro não nos ensina nada. A separação gerada pelo isolamento nos empobrece e esvazia o sentido de algumas coisas.
A revolução farroupilha
O vinte de setembro é a data que comemora o que ficou conhecido como o dia do gaúcho. Pois, marca exatamente o início de uma revolução que pretendia desvincular nosso estado do restante do Brasil. Embora seja um fato histórico e inegável, me agrada pensar que os ideias farroupilha tenham sido frustrados. Ou seja, o resultado da revolução não foi atingido e o estado permanece como parte deste imenso território brasileiro. Sou brasileira antes de ser gaúcha e não pretendo ofender e nem discutir com quem pensa diferente. Porque, tudo que sou foi formado neste solo que aprendi a amar e respeitar.
Infelizmente, este tipo de respeito oferecido e reivindicado é objeto escasso e raro em nossos dias. Já que a polarização imprimiu um tom hostil e pouco respeitoso aos nossos relacionamentos. Atualmente pensar em uma convivência pacífica e civilizada com quem diverge parece impossível e até objeto de luxo. Minha provocação aqui é para uma reflexão em relação ao que nos motiva realmente. Será que temos a necessidade de estar certos? Ou toleramos pouco o outro por falta de empatia? A revolução farroupilha espalhou sangue em nosso solo e hoje este sangue continua jorrando sempre que, em nome de nossos ideais, matamos o outro. A morte nem sempre é física, mas acontece quando desumanizamos nosso semelhante, subtraindo sua capacidade de se expressar.
O estado da diversidade
Um estado com cultura tão diversificada é formado pela diversidade. Nada poderia ser mais incoerente do que esperar que não sofrêssemos influência destes vários fatores já mencionados. Por isso, a tolerância e o respeito são tão essenciais para que o crescimento aconteça em todas as esferas. É fato que uma casa dividida não sobrevive. Pois, sempre que o outro transforma-se em nosso inimigo e não aliado, estamos dando tiro em nosso próprio pé. Não podemos ignorar o fato de que somos mais fortes quando unimos forças e não quando elas estão dispersas. Esta verdade aplica-se aos gaúchos, aos brasileiros e a qualquer grupo de pessoas que pretenda avançar na direção do crescimento.
A maturidade de um povo e de uma nação não pode e não deve ser medida apenas por fatores econômicos. Pois, embora sejam indicadores de progresso, eles são consequência de um trabalho de equipe que não subsiste onde há divisão e disputa. Os dizeres de nossa bandeira nacional – “Ordem e Progresso”, assim como os de nossa bandeira regional – “Liberdade, Igualdade e Humanidade”, só são conquistados quando estamos focados e unidos. Não é o sangue derramado que gera o que almejamos, mas as mãos dadas e um coração que respeita diferenças e que aprecia e conta com a força que existe nelas.